"Senhor Arileya, senhor Zabala, gostariam de ver o cardápio do jantar?"
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Business Class
terça-feira, 1 de novembro de 2011
O Mundo de Cristal
terça-feira, 25 de outubro de 2011
MELWIN
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Turismo de Cemitério
Na verdade eu era até um estraga-prazeres. Quando diziam que uma casa era mal assombrada ou cheia de almas penadas, eu entrava lá, abria as janelas e dizia: "Olha aí, gente, não tem alma penada nenhuma aqui não!"... Caminhos escuros onde se escondiam os sacis e outras coisas também me fascinavam. Fiquei três noites em Joanópolis para ver o Lobisomem e a Mula-Sem-Cabeça, que a mulher jura que o filho dela viu, mas eu sou um azarado mesmo. Nos dias que fui nunca apareceram. Já tentei até 13 de agosto de ano bissesto, em plena sexta-feira. Nada.
Eu nasci incrédulo. Essa é a única explicação. Ou minha mãe era tão incapaz de me convencer, que ela dizia mas eu não acreditava. Mas é certo que na minha família a morte nunca foi nem amiga nem inimiga. Choramos a morte dos que se vão com naturalidade, mas não queremos ir junto, como costumam fingir alguns à beira da sepultura. E depois que se vão os esquecemos (eu pelo menos esqueço) e não costumamos fazer visitas aos ossos do defunto que está sete palmos debaixo da terra.
Não faz sentido.
Em cidades menores, como Araraquara na minha infância, os velórios eram feitos na casa do defunto. A funerária punha uma cortininha roxa no portal da casa indicando que ali havia luto. As portas eram abertas, os móveis retirados e a visitação era sempre pública. Afinal todos se conheciam. E a entrada era franca, o que significava que se podia conhecer por dentro a casa de todos aqueles que morriam. Confesso que não resistia. Desde que que me conheço por gente, sete ou oito anos, que perambulava pelas ruas da cidade, não perdi um velório.
Só havia duas funerárias. Ou Micelli ou Almeida. Mas duas funerárias já dava concorrência. Eu preferia os funerais dos Micelli por ter cafezinho e mais alguns agrados. Às vezes fazíamos amizade no velório com outras crianças e ficávamos brincando de pega-pega, até por debaixo do caixão já passei correndo. E eu sempre tive muito apego ao uso das palavras. Então ficava observando como se comportavam as viúvas, e as frases prontas que se repetiam em todos os velórios. A mais comum na minha cidade era que o defundo nunca tinha feito mal "nem para uma mosca". Outra comum era o "tanta gente ruim nesse mundo, e bem ele vai morrer".
O fato foi que eu me diverti demais com os velórios da cidade, aproveitei velórios de ricos que compravam salgadinhos e guaranás e, enquanto uma turma chorava lá, a outra refestelafa de cá, entre risos, piadas e coisas comuns a todos os velórios. Também, chorar 24 horas sem parar, nem a mãe da criança.
Dada a hora marcada, um carrinho era encostado na porta da casa, o caixão era fechado aos berros desesperados dos órfãos, coisa compreensível, e íam empurrando o carrinho até o cemitério. Todo mundo ajudava um pouquinho para colaborar no esforço. Depois passaram a levar na kombi, bem devagarinho e o povo ia atrás. Mas a cidade foi crescendo e os trajetos da casa do finado até o cemitério começaram a ficar longe demais. Não dava para acompanhar a pé. Aí iam de carro, alguns não iam mais e a tradição foi-se acabando.
Para acabar com a festa de uma vez, um prefeito lá que nem quero lembrar qual foi, construiu o Velório Municipal e proibiu fazer velório nas casas. Aí acabou a graça. Velórios municipais são como conjuntos habitacionais: quem viu um viu todos. Já fazem num canto do cemitério e nem tem a procissão. Cada um corre para pegar um ângulo bom de vista. Acabou-se a cerimônia. Virou uma zona. Foi um tempo muito bom. Aprendi demais sobre como um defunto vira santo. Basta não matar "nem uma mosca".
Paralelamente a esse meu fascínio por velórios, eu também adorava andar em cemitérios e ver, pelos nomes mais conhecidos, os mais ricos, quem fazia o maior jazigo. A vaidade é uma coisa tão podre que se manifesta até na compra do caixão mais caro e na construção de jazigos com mármores importados e outras coisas que arquitetos famosos projetam para os que gostam disso. Credo.
Mas, fora os famosos, há os interessantes. Uma observação atenta te leva aos que estão enterrados a mais tempo. Quantos anos viveu. É só fazer as contas do dia do nascimento e da morte. Eu era bom de fazer contas de cabeça. E aos túmulos "classe média" eu dava só uma espiadela. Não tinham muita atração. Era só um granito barato, básico, e uma plaquinha informativa. Eu gostava mesmo era das pontas. Dos jazigos dos poderosos e dos podres de pobres.
Houve uma fase em que o granito e o mármore ficaram caríssimos e então surgiu a moda de fazerem túmulos azulejados. Era uma breguisse, mas ficava mais barato. Já imaginaram uma cruz azulejada em cima do túmulo? Um horror. Já até a década de 50, 60, ainda se conseguia colocar uma escultura em mármore de alguns anjos. Depois encareceu demais e hoje, quem tem, tem, quem não tem, morresse antes.
Por essas semanas, com o sepultamento de dona Ruth Cardoso no cemitério da Consolação, me lembrei que tive a oportunidade de conhecê-lo mas, que azar o meu, não sabia de tantos famosos lá enterrados. Presidentes, Monteiro Lobato, os Matarazzo e tantos outros. Perambulei por lá, gostei demais, mas não reconheci ninguém famoso. Fiquei sabendo das atrações através de um "guia turístico" do cemitério que foi entrevistado no Programa do Jô. A vida me empurra cada vez mais para longe de São Paulo, mas ainda vou visitar de novo o Cemitério da Consolação, dessa vez com o guia, pois quero contemplar o último lar dos que não voltam mais.
Enfim a moda virou e acharam que a morte nivelava as pessoas, de forma que surgiram os cemitérios parques, gramados, sem túmulos. Anda-se pelo gramado em busca das plaquinhas que ficam no chão. O primeiro, salvo engano, foi o Cemitério do Morumbi, onde estão os restos de
Ayrton Senna e da minha avó e família.
De fato nivela as pessoas mesmo, mas por cima. Não tem túmulos mas um pedacinho de terra custa uma fortuna. Como as pessoas andam pelos jardins aleatoriamente, não se cria trilhas. Menos no caso de Senna.
Ali é que nem área de goleiro. Não cresce grama nem a pau. Todo mundo vai lá, lê a plaquinha "Ayrton Senna da Silva", lamentam e se vão. Todos num vai e vem em linha reta. Não tem jeito. Só calçando mesmo. Esses cemitérios não têm charme. São monótonos demais.
Cemitério é cultura. Cemitério conta a história da cidade através dos que se foram e das suas condições financeiras à época da morte. Mostra costumes de épocas, como se colocar a foto do defunto no túmulo. Houve a era dos versos, dos anjos, das estátuas em bronze. Está tudo lá, datado. É só observar. E, como tudo na vida, tem que garimpar. Quem anda pelos meios das quadras acaba encontrando algumas preciosidades.
Finados é o carnaval dos cemitérios. Aconselho não ir nesses dias. A hipocrisia é imensa. Escolha uma segunda-feira normal, lá pelas 10 da manhã, e vá observando, lendo, aprendendo... Lá não há almas penadas, nem fantasmas ou assombrações.
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José Caparica Neto, autor do texto acima, foi escritor, cronista, jornalista e publicitário. Morreu no dia 22 de Outubro de 2010, aos 53 anos.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
A Infinidade
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Breve, Conciso e Auto-Explicativo Diálogo Dramático
- Ufa!
- Não, Lívia, é sério. Acabou mesmo.
- Não, tudo bem, eu sei, eu também estou falando sério.
- ...
- Então é isso, boa sorte para você na vida e muito obrigada por tudo, viu?
- Tá bom... de nada.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Meu Sentimento de Patriotismo
Nunca senti absolutamente nada de especial em relação ao Brasil. Esse furor nacionalista, fomentado a cada dois anos pelas eleições e todo domingo pelo Galvão Bueno, essa coisa de que Deus é brasileiro e o cacete. Isso tudo me inspirava estranheza quando mais jovem e atualmente me inspira pena e compaixão.
Porque não tem nada mais deprimente do que ver um coitado de um sujeito ganhando 500 mangos por mês, tendo que deixar uns 150 em impostos para um governo que está pouco se lixando para ele, tendo que sustentar família e comprar caderno para o filho estudar em uma escola que se esforça para manter toda a família num mesmo nível de ignorância operacional, e ainda por cima gritando "Brasil!!!" porque a seleção fez um gol. E quando a gente enfia 5 a 0 nos EUA, parece que a diferença social e econômica entre os dois países fica perdoada, porque afinal de contas eles têm dinheiro e vivem bem, mas a gente é pentacampeão. Ta pago.
Eleições conseguem ser ainda mais cruéis, ainda mais desumanas do que o esporte. Passam anos e anos bebendo champagne e Blue Label, conhecendo os 5 continentes, fazendo esbórnias e orgias saturnais com prostitutas de 16 anos de idade, enchendo o rabo de cocaína e outras coisinhas mais, e tudo com o seu dinheiro. Tudo com aqueles 150 mangos de impostos que cada coitado que trabalha tem que pagar para não dormir no xilindró. Aí chegamos no ano eleitoral, e começam a falar que o voto é o exercício da cidadania, que o processo democrático é um direito adquirido, que vivemos em um país livre e somos dessa forma livres para escolher nosso futuro na forma de nossos líderes. Batem no peito com a camisa canarinho e ainda chamam jogador de futebol (porque não, NE?) para dizer na TV que o melhor do Brasil é ser brasileiro. Fazem piada com a sua cara o ano todo e ainda querem proibir os humoristas de fazer piada em tempo de eleição.
E sabem o motivo? Três letras: CQC. Um programa que nem acho bom, mas que constitui a primeira tentativa bem-sucedida de ridicularizar as atitudes ridículas de nossos líderes. Tudo isso porque, entre nossos 26 líderes governamentais, não há um que tenha preparo intelectual e retórico para sentar diante do Marcelo Taz e não ser esmagado. Agora eu pergunto, é o Taz que é o maior orador da humanidade, ou nossos líderes são néscios ignorantes incapazes de argumentar sem um discurso pré-concebido?
Para ser bem honesto, gosto muito da diversidade genética da população local, e ainda mais do clima ameno, sem catástrofes naturais relevantes na região em que vivo. Tirando isso, não vejo nada de razoável nesse país que me inspire qualquer amor à terra ou a seus ocupantes. Talvez nem você sinta de verdade esse patriotismo todo, meu caro leitor. Talvez você só esteja acostumado a acreditar quando nossos líderes te dizem que esse imenso aterro sanitário global, com líderes que se relacionam com governos terroristas, é muito cheiroso e bem arrumado. E eles, enquanto isso, podem trabalhar tranqüilos com você bem distraído pelo Campeonato Brasileiro e pelas Cestas Básicas que te mandam junto com o Bolsa-Família. O patriotismo, meu caro, já dizia Samuel Johnson, é o último refúgio dos canalhas.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Carta Ao Santíssimo Padre, o Papa Benedictus XVI
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Meu Texto Para o Dia do Escritor
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Fuga
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Uma Noite Na Agradável Quezon
Em Quezon, bem ali, no Centro Velho, bem em frente à praça José Risal, fica o ainda mais aconchegante restaurante do Castro. Sujeito de pequeno porte e sorriso plástico, emoldurado por um denso bigode negro. Quezon é uma cidade mercantil, freqüentada por inúmeros estrangeiros, e talvez isso possa explicar a razão de, em um restaurante típico nas Filipinas, haver uma placa abaixo do nome 'Castro', onde pode-se ler, em língua inglesa para facilitar a compreensão, as palavras "Comida Típica das Filipinas".
Não que a língua inglesa seja mais alienígena lá do que aqui, nem que tal aviso não possa ser lido em outros restaurantes de outros países. Mas lá, em Quezon, no restaurante do Castro, bem no Centro Velho, era importantíssimo para qualquer estrangeiro ajuizado saber se poderia pedir um hambúrguer ou se teria de se refestelar com os inesquecíveis pratos típicos da culinária Filipina.
O Castro tem um cardápio bastante variado. Se você pedir uma sugestão ao Antonino, melhor garçom do Sudeste Asiático, ele te levará, por sua conta e risco, através de um tour gastronômico. Como entrada, para você já ir entendendo onde se enfiou, são servidas aranhas tarântulas (saca, aquela grandona, peluda?) apimentadas e fritas. Seu veneno, naturalmente, é desfeito no preparo, e as tripas do bichinho são removidas antes de fritar. Tem uma casquinha crocante e uma carne muito macia e de sabor delicado. Peça pelo molho Bashlak, fica excelente.
O prato principal mais servido no Castro é a sopa Lokot, feita com cebolas, salsa, um molho secreto do Castro de sabor adocicado e macarrão, estilo lamen, feito com fezes de Lokot, um tipo de peixe bastante comum na região. Para os dias mais quentes, onde uma sopa pode não cair tão bem, o Antonino vai sugerir a mais pitoresca e suculenta das iguarias Filipinas, os ovos Balut. Uma porção individual traz arroz, uma cumbuca com chili, vinagre e outros temperos, e cinco ovos de pato. O segredo do prato está nos ovos, que são fertilizados, com embrião por volta do 19º. Dia de desenvolvimento. No Vietnam esses ovos são levados ao fogo com apenas 13 dias, mas o chef do Castro deixa chocar por mais alguns, o que garante aos patinhos ossos mais firmes, embora macios depois de cozidos. Quebra-se a casca, para poder primeiro sugar o caldo, então coloca-se alguns temperos antes de comer o embrião. O sabor é característico, e não se parece com nada que a pobre e tediosa culinária ocidental conheça.
Para a sobremesa, não se deixe levar pelo freezer de sorvetes ou pela mesa de frutas, nada disso justificaria uma viagem a Quezon. Chame o Antonino e peça por uma porção individual de Hasma, com cobertura de caramelo. São pequenos flocos desidratados à base de trompas de falópio de sapos Tchun-Kien, importados da China. Misturados com açúcar e com uma cobertura de caramelo, formam uma massa deliciosa com textura de tapioca e coloração próxima à da rapadura.
O Castro aceita todos os cartões de crédito internacionais, entrega para toda Quezon e funciona de segunda a segunda. A fachada é muito bonita, decorada com adereços típicos e, bem ali do lado, coladinho no Castro, fica uma lanchonetezinha feia e suja onde você pode comer um hambúrguer de carne bovina e ocidental por um preço justo. Diga que é leitor do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta e, comprando o segundo hambúrguer, você ganha uma Coca-Cola.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Escola Estadual Bento de Abreu
É esse o nome do lugar onde estudei da 1ª série até o 3º colegial, aqui em Araraquara. E sendo Araraquara uma cidadezinha do interior de São paulo, mas que poderia perfeitamente estar situada no Texas ou Alabama, é lógico que, em todo mês de Junho, tínhamos festas típicas.
Para começar, tipicamente obrigatórias, visto que eram uma oportunidade excelente para a direção de um colégio público de 500 alunos extorquir dinheiro dos pais e dos filhos. Lembro-me que o diretor, seu Osvaldo Malaspina (sim, Malaspina, coincidência ou não, à vossa guiza) passava de sala em sala falando da festa, explicando que era tantos cruzeiros por pessoa da família, que já ia deixar 4 para cada aluno e que tinha que levar o dinheiro até sexta-feira. A gente tinha no máximo 9 anos e acreditava quando a "tia" ainda tinha a cara-de-pau de dizer que a participação valia nota. Pensando nisso agora, vejo que nossa sociedade tem isso de bom: já vão te acostumando a ser logrado desde os primeiros dias, para não traumatizar depois. Lembro-me que no meu colégio faziam uma competição fundamentada em exploração de trabalho infantil chamado "Miss Caipirinha". Cada criança recebia uma folha de sulfite com uma tabela de cinqüenta quadradinhos impressos em tinta azul de mimeógrafo velho. A criança pegava isso, e ia de parente em parente, por vezes vizinhos e amigos dos pais, esmolando X cruzeiros para cada quadradinho. Era uma rifa, excetuando-se o detalhe de que quem comprava não concorria a nada, o que enquadra a coisa toda em prática de mendicância infantil. A criança que vendesse tudo podia pegar outra folha e sair vendendo mais, e a que mais vendesse ganhava um jogo de dominó ou quebra-cabeças de 100 peças. Como o nome pode sugerir, era inicialmente exclusivo para meninas, mas em pouco tempo a direção percebeu que podia lucrar o dobro ao criar o "Mister Caipirinha".
Mas o melhor das festas era a própria festa. Primeiro porque nossas mães, precursoras desavisadas do movimento grunge, nos vestiam com camisas xadrez furadas, calças jeans surradas e remendadas e para completar, sujavam nossos rostos. Bigodinho era obrigatório e, se a mãe fosse agressive mesmo, chegava a pintar uns dentes de preto. Imagino como seria o Kurt Cobain aos 8 anos numa dessas.
A quadrilha. Uma série de coreografias feias, de origem européia medieval, regadas com expressões pitorescas da cultura local como "Ói a cobra!" e "Oi a chuva!". Tinha ensaio para ensinar toda essa micagem aos pobres e forçosos alunos. Alguns, como eu, eram demasiadamente descoordenados para tanto, e ficavam de testemunhas no Casório da Roça, papel cuja performance exigia pouco além de saber ficar parado. Os nerdinhos gordinhos-introspectivos-de-óculos-alvos-preferenciais-dos-moleques-que-faziam-karate ficavam todos lá, geralmente.
Do outro lado da festa, os descolados (e acho que todos conseguem imaginar bem um descolado de 9 anos de idade) ficavam no controle das duas instituições mais cafonas da festa: a Cadeia e o Correio Elegante. Pagava-se (mas calma, o dinheiro ia para a escola, o que você estava achando?) para prender crianças numa salinha até os pais pagarem a fiança (e nessa hora nós nerds gordinhos éramos muito requisitados) e para mandar recados com xavequinhos de galãs de 9 anos para as meninas de 7 ou 8. Lembro que tinha um moleque filho da puta que sempre recebia bilhetinho e depois vinha me zoar. Hoje penso que talvez ele pagasse para receber os próprios bilhetes, e me sinto meio burro de não ter feito isso na época.
Tinha pipoca, algodão doce, paçoca, quentão, vinho quente, doce de leite, churros, canjica, cachorro quente, churrasquinho de kafta, mariola de bananada, amendoim doce, amendoim salgado, pé-de-moleque, chocolate quente, milho verde cozido, bolo de milho, bolo de fubá, doce de batata doce, doce de abóbora e muita, muita tubaína. Particularmente, era o único aspecto da coisa toda que me agradava. Não era nem nerd nem gordinho à toa.
Finalmente, tinham os fogos. Ah, os fogos! Festas juninas e viradas de ano-novo são as únicas datas do ano fora do Afeganistão e do Iraque em que é socialmente aceitável ver crianças brincando com explosivos. Traques, bombinhas, bombas 1000 e 2000, com cargas em pólvora preta e pavios da marca Papaléguas. Caramuru de três tiros, buscapés e, porque não, balões incendiários. Uma criança ou outra sempre perde um dedinho, mas afinal de contas são 2500 alunos, acidentes acontecem. E chega, já falei demais de uma festividade que não gostava nem quando era Mister Caipirinha. Aliás, Mister Caipirinha não soa um incentivo ao alcoolismo infantil?