quinta-feira, 1 de julho de 2010

Uma Noite Na Agradável Quezon

Em algum lugar do distante Oceano Pacífico, espremidas entre Taiwan e a Indonésia, num daqueles cantos do mapa múndi que ninguém presta muita atenção, existe um vasto arquipélago que abriga a nação conhecida por Filipinas. Em uma das mais de sete mil ilhas, quase todas habitadas, dessa nação, há uma morna e aconchegante cidade de nome Quezon. Para ser mais específico, Quezon é a maior cidade das Filipinas, ainda que isso não seja exatamente um feito, dado o tamanho das ilhas.

Em Quezon, bem ali, no Centro Velho, bem em frente à praça José Risal, fica o ainda mais aconchegante restaurante do Castro. Sujeito de pequeno porte e sorriso plástico, emoldurado por um denso bigode negro. Quezon é uma cidade mercantil, freqüentada por inúmeros estrangeiros, e talvez isso possa explicar a razão de, em um restaurante típico nas Filipinas, haver uma placa abaixo do nome 'Castro', onde pode-se ler, em língua inglesa para facilitar a compreensão, as palavras "Comida Típica das Filipinas".

Não que a língua inglesa seja mais alienígena lá do que aqui, nem que tal aviso não possa ser lido em outros restaurantes de outros países. Mas lá, em Quezon, no restaurante do Castro, bem no Centro Velho, era importantíssimo para qualquer estrangeiro ajuizado saber se poderia pedir um hambúrguer ou se teria de se refestelar com os inesquecíveis pratos típicos da culinária Filipina.

O Castro tem um cardápio bastante variado. Se você pedir uma sugestão ao Antonino, melhor garçom do Sudeste Asiático, ele te levará, por sua conta e risco, através de um tour gastronômico. Como entrada, para você já ir entendendo onde se enfiou, são servidas aranhas tarântulas (saca, aquela grandona, peluda?) apimentadas e fritas. Seu veneno, naturalmente, é desfeito no preparo, e as tripas do bichinho são removidas antes de fritar. Tem uma casquinha crocante e uma carne muito macia e de sabor delicado. Peça pelo molho Bashlak, fica excelente.

O prato principal mais servido no Castro é a sopa Lokot, feita com cebolas, salsa, um molho secreto do Castro de sabor adocicado e macarrão, estilo lamen, feito com fezes de Lokot, um tipo de peixe bastante comum na região. Para os dias mais quentes, onde uma sopa pode não cair tão bem, o Antonino vai sugerir a mais pitoresca e suculenta das iguarias Filipinas, os ovos Balut. Uma porção individual traz arroz, uma cumbuca com chili, vinagre e outros temperos, e cinco ovos de pato. O segredo do prato está nos ovos, que são fertilizados, com embrião por volta do 19º. Dia de desenvolvimento. No Vietnam esses ovos são levados ao fogo com apenas 13 dias, mas o chef do Castro deixa chocar por mais alguns, o que garante aos patinhos ossos mais firmes, embora macios depois de cozidos. Quebra-se a casca, para poder primeiro sugar o caldo, então coloca-se alguns temperos antes de comer o embrião. O sabor é característico, e não se parece com nada que a pobre e tediosa culinária ocidental conheça.

Para a sobremesa, não se deixe levar pelo freezer de sorvetes ou pela mesa de frutas, nada disso justificaria uma viagem a Quezon. Chame o Antonino e peça por uma porção individual de Hasma, com cobertura de caramelo. São pequenos flocos desidratados à base de trompas de falópio de sapos Tchun-Kien, importados da China. Misturados com açúcar e com uma cobertura de caramelo, formam uma massa deliciosa com textura de tapioca e coloração próxima à da rapadura.

O Castro aceita todos os cartões de crédito internacionais, entrega para toda Quezon e funciona de segunda a segunda. A fachada é muito bonita, decorada com adereços típicos e, bem ali do lado, coladinho no Castro, fica uma lanchonetezinha feia e suja onde você pode comer um hambúrguer de carne bovina e ocidental por um preço justo. Diga que é leitor do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta e, comprando o segundo hambúrguer, você ganha uma Coca-Cola.

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