segunda-feira, 9 de setembro de 2013

microuniverso mítico da angústia, curiosamente o tema da semana


Eu não sabia exatamente o significado de "angústia", aí fui olhar no dicionário. O único dicionário de português que eu tinha era português, e achei gozado quão pouco angustiado pareceu o português. Logo ele, cheio de fado, logo ele cheio de trágicos traços e coisas, e merdas - como diriam. Mas dizia o dicionário "angústia é do latim angustia, -ae, querendo significar estreiteza, contrariedade, aflição. Um substantivo feminino, esse, de duas acepção: uma, estreiteza, outra, grande aflição acompanhada de opressão e tristeza". Opressão e tristeza. Subindo a serra, descendo a serra, olhando a mata ao longe o sol o monte serpenteando no bucho do busão, beirando o beiral da vida, olhando a descida a caída ribanceira, lá de cima. Angústia. Não achava mais - eu nunca acho, eu nunca achei - que ela viria assim, sorrateiramente, subrepticiamente, inesperadamente breve e rápida cirúrgica singela como uma punhalada, como uma festa surpresa de aniversário no dia errado, nunca pensei, não achava. Que subindo a serra, descendo o choro, descendo a serra, que soluçando, viria assim como quem nunca veio quem não vem mais, não pensava que ela estaria na beira da estrada esperando por minha passagem, por minha passada, passado esgueirando atrás de um pedágio. Na contramão. Acho que é isso, no fim: angústia, pra mim, é pressão que vem de todos os lados, que vem sem razão, sem porquês, só porque sim, que vem, que vem, que pesa que gravidade. Subindo a serra, pensando, ar rarefeito, angústia era atmosfera.

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