segunda-feira, 16 de setembro de 2013

como se descreve uma guerra antiga

O pequeno pedaço de fragmento brilha na luz indireta, neon, de algum canto. Irregular, cinza, castanho - talvez o castanho seja do tempo - o pequeno fragmento paira no ar eternamente, naquela letargia entre as duas extremidades do quadro. Da fotografia. Mais para a direita que para a esquerda, o teco de chumbo ou ferro lançado pelo projétil está ali, claro, evidente. Gritante. De quem foi o dedo no gatilho, a pressão sobre o botão da morte? Terá sido azar, talvez? Pouca sorte de estar no front? Face assombrada, grito de medo, grito de guerra, o soldado caído no plano de fundo parece gemer. Para sempre. De frente para o fragmento, olho aterrorizado, outro soldado. Vê o pedaço vindo na velocidade da luz, sem velocidade alguma. Sem qualquer luminosidade. Sem claridade. Trevas de um projétil capturado num quadro, num retrato, num retardo que se arrasta. A foto amarelecida, cansada como o tempo, a morte e a guerra, jaz soterrada entre uma pasta antiga e duas caixas de cerveja. O cenário é um bar parado, um ar parado, mortiço e mortal como o fragmento deflagrado. Há tempos.

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