quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O bilhete

"Se caminhar sozinho
é mesmo o caminho
que escolhi pra mim
esconde o seu rosto
que para o meu desgosto
eu caminho pro fim."

Leu o bilhete deixado em cima da cômoda, cômoda não alias, era mais um criado mudo... era um bilhete intrigante. Pode o caro leitor pensar que se trata de um simples bilhete de amor, mas nada era tão simples assim. José não se lembrava de um dia ter tido um amor, uma namorada, um namorado (não havia nem se definido ainda). Como poderia então ser um bilhete de amor? Talvez fosse uma brincadeira de algum amigo, um jogo poético. Isso sim é uma boa teoria, mas falha, indubitavelmente falha. O porquê? oras, porque ele não possui nem nunca possuíra amigos.

Deixemos bem claro já, antes de mais nada, que ele também não possui pai e mãe, é órfão, criado num pequeno orfanato que hoje é um consultório de dentista. Trabalha oito horas por dia com telemarketing, em casa, um pequeno apartamento de quarto/sala. Ou seja, nenhuma teoria que os leitores puderam ter feito pode se encaixar ( confesso ser injusto essa competição, já que como escritor, eu decido o que se encaixa ou não).

Sim leitores, não tem como vocês acertarem essa. NÃO, não é uma carta dele próprio, ele não tem propensão à esquizofrenia. E então? Imagino que só o que sobra é uma possibilidade mágica ou religiosa, não é?

O bilhete com o poemeto pode ter aparecido por mágica, sendo enviado por um artista do ilusionismo incrivelmente competente e brincalhão, ou pode ser fruto de uma interferência divina. Como autor, estou mais propenso à segunda opção. Explico. Não sou muito fã de mágicas e nem considero mágicos bons personagens literários, então prefiro conceitos religiosos, são mais amplos e mais facilmente absorvidos pelos leitores.

Fica então decidido que é tudo fruto de uma interferência divina. Cabe ao autor agora decidir qual o foco. Penso que temos duas possibilidades. Ou nos aprofundamos na divindade em questão, o que ocasiona ter que trabalhar alguma mitologia de maneira mais profunda - o que confesso, me desagrada, já que tenho preguiça - ou simplesmente deixamos o acontecimento ter um significado religioso interno. Sim, escolho esse, o aparecimento desse bilhete mudará internamente a vida de José, ocasionando em um futuro totalmente diferente do que ele teria sem o pequeno poema.

A escolha normal seria explicar aos detalhes como cada aspecto da vida dele se modificou e como ele se tornou melhor ou pior por causa disso. Mas não, não creio que tenha tanta paciência para isso, assim como não acredito que vocês leitores realmente queiram ler. Então encerro aqui, deduzam vocês o que aconteceu, já guiei-os por mais do que o necessário para uma grande imaginação, coisa que espero dos meus leitores. Até o próximo texto, que alias, talvez eu só sugira do que se trate, sabe, para economizar tempo.

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