quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Factóides

Meu nome é Eduardo. Gostaria de lhes informar meu nome para ter a ilusão de que não serei esquecido. Que nos dez minutos que os senhores demorarão para ler este texto, alguma fagulha lhe machucará o coração. E no que termino do mesmo, sensibilizados por minhas palavras, procurarão o nome do autor e, mesmo que somente seu prenome, guardarão mentalmente.

Minha secretária eletrônica marca quatro recados não lidos e não sei se os lerei.

(silêncio)

Desculpem-me. O costume de escritor quase me induz a produzir uma ambientação mais sedutora do que a realidade. Na verdade, estou sozinho na frente de um computador que produz mais barulho que uma britadeira. A tela não me seduz, mas mesmo assim continuo a sua frente. Esperando algo, meu Godot.

Na verdade, tenho quatro mensagens piscando em minha tela. Avisando que chamaram-me no programa de mensagens instantâneas. Hesito em abri-las. Parte de mim questiona-se, como se houvesse um motivo que justificasse este agora.

(silêncio)

Apago cada uma de minhas frases após escreve-las. Desejo cortar o sentimentalismo. As veias que levam sangue ao meu coração. Então, apago. Mais apago do que escrevo. Traços esbranquiçados ondem sobra apenas fragmentos de idéias, partículas da borracha.

Na biblioteca, os livros de Clarice Lispector chamam minha atenção e deleto as frases sem vê-las. Não quero me tornar Clarice. A escritora amorfa cujas palavras são lidas apenas por sentenças sentimentais em redes sociais. Gostaria de escrever um livro mas todas as palavras parecem rir de mim.

(goles de água, então, silêncio novamente)

Disseram-me que o talento que tenho me levaria a algum lugar. Só vejo miséria. Aquilo que componho, ninguém lê. Preciso pedir-lhes atenção, mendigar que pousem os olhos nessas palavras. Há excesso de informação no mundo, televisão, internet, farmville. Leituras só em poucos caracteres. Os romances russos morreram.

Deveria ter trabalhado na televisão. Números, melhor, são precisos. Um bartender, bem possivelmente. Ninguém cansa de beber. Livros são só para escorar as cadeiras que vão ficando coxas.

Estou fadado ao fracasso, senhores.

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