segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

bachiana

- Minha mão direita está gelada. Consigo ouvir o som do cachorro bebendo água lá na cozinha. Há estrelas no céu. A garrafa d'água está vazia. Um pinheiro de Natal, por sobre a mesa, não tem enfeites. Meus enfeites, contas, sementes espalham-se na mesma mesa do pinheiro plastificado. Aparelhos eletrônicos em suas tomadas, em suas entradas, usb, chapéu esperando cobrir a cabeça no topo da pilha de velhas revistas de psicologia analítica. A garrafa d'água está vazia. O cachorro já não bebe água, e agora patinha passeia se coça e tromba com a porta do corredor. Minha mão direita começa a esquentar. A esquerda, apoiada demais no teclado, machuca um pouco do lado, pra perto do dedo menor. Alguém sobe as escadas. Tento relaxar o braço esquerdo. O cachorro late insuportavelmente agudo. Relaxo o braço, desafogo a mão do teclado, atento à tensão pelo corpo. Cachorro continua latindo, e a garrafa continua vazia. Ela nunca vai se encher sozinha. O cão, ao menos, já parou. Os mecanismos internos do meu computador soam como grilos em noite fria enluarada. Noite de hoje. Grilos no HD, geladeira acionando o motor que gera o caos. Frio. O frio da minha mão direita foi embora, o frio de lá fora talvez não. A geladeira canta grilos coaxa sapos e talvez esfrie a noite. O inverno é culpa dessa minha geladeira. Cachorro se coça. Eu não; somente escrevo. A cada batelada, a cada tecla pressionada deste texto eu movo a mesa, e o candelabro faz barulho de cair. A garrafa vazia não vai se encher sozinha, o som da mesa balançando a vela não vai parar até que o texto encerre, não tenho porquê falar com travessão se não é conversa, e já que ninguém protesta vou lá buscar água. Que ainda não está na garrafa.

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