segunda-feira, 30 de abril de 2012

que ninguém busque o racismo onde não tem

Ela puxou uma pétala.

Do lado de fora do universo, o cavaleiro de armadura branca desferiu um golpe certeiro no flanco esquerdo do inimigo. A ponta da lança trespassou a armadura e o cavaleiro negro urrou de dor.

Outra pétala. Agora já são duas sobre o balcão.

Do lado de fora, o cavaleiro de ébano aperta seus olhos vermelhos enquanto investe contra o outro, mão esquerda pressionando o ferimento e mão direita, também certeira, atingindo o pulso alheio. A lança do cavaleiro branco caiu ao chão junto a um dedo. Era o mínimo, talvez não fizesse falta.

Mais uma pétala arrancada.

O cavaleiro branco salta do cavalo e tira das costas a espada bastarda. O negro, desmontando cuidadosamente, silvando contra o alvo, desembainha a estúpida espada de duas mãos.

Os dedos frágeis da menina arrancam outra pétala da flor. O balcão salpica de amarelo aleatório.

Ambos os guerreiros gritam e rezam a seus deuses. Jogam-se furiosamente um contra o outro, cavalos à distância observando a luta. O universo que separa a cena do balcão tremeluz um pouco e some. A briga agora está lá fora, na rua, uma porta de distância da menina.

Que tira da flor mais uma parte.

O cavaleiro branco golpeia o elmo inimigo e esse, partido ao meio, voa longe, deixando a face monstruosa do outro guerreiro à mostra. Apenas um fino corte de sangue verde escorre do rosto em frenesi.

Mais uma pétala sobre o balcão.

A espada de duas mãos acerta o braço do branco. O cavaleiro negro grita, em êxtase. O cavaleiro branco finta, com meio braço a menos.

Alguém na mesa 8 chama a garçonete. Sobre o balcão, ao lado das pétalas arrancadas, uma flor incompleta aguarda o fim da batalha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário