quarta-feira, 25 de abril de 2012

Erva Daninha

Nos encontramos no refeitório todos os dias. Nunca conversamos mas a conheço. Almoça perto de mim. Não por afinidade muda mas pela preferência do ambiente mais remoto. A postura na cadeira é exemplar. Talheres posicionados milimetricamente antes da primeira garfada.

A primeira vez que a reconheci fora do trabalho, e tive um misto de simpatia e repulsa, foi quando a vi no ponto de ônibus. Roupas sociais perfeitamente alinhadas, cabelos sem nenhum fio fora do lugar, corpo ereto. Perfeito exceto pelas lágrimas. Me impressionou.

Não imagino que seja vontade própria sua solidão. Parece-me que ela tentou nestes últimos anos. Porém, nessa década que trabalho na empresa, lembro-me de ter visto poucas vezes sua interação com outro que não perguntas metódicas sobre o trabalho, que não a falsa educação polida de dizer obrigado e assinar atenciosamente cada comunicação interna.

Uma espécie humana que confia naquilo que estático. Orgulhoso de ser a pedra permanecida no caminho. Estática, sem olhar para os lados, os meios não justificam os fins porque nunca há ação, somente métodos. Deus, estou saindo de mim.



Laura me deixou hoje pela manhã. Preparou suco de laranja como despedida. Tentei resistir. Mas chorei. No banheiro, longe do cachorro, me debulhei em lágrimas. Não queria que ele se assustasse com os soluços, latindo feito um louco. Então, tomei um banho, liguei o ar condicionado do carro no menor grau possível e vim para o trabalho. Silencioso, plástico, fodido por dentro.

Dois minutos antes das oito horas, a funcionária está a frente do sistema de registro de entrada. Todos os dias aguarda o momento preciso para inserir sua digital, confirmando a presença diária no emprego. Hoje ela me disse bom dia, sentou-se em seu cubículo e retirou a maçã da bolsa, colocando-a estrategicamente a sua direita.

Eu queria ser como ela. Independente, autômato, dono de si. Sobreviver com estilhaços no corpo e membros destroçados. Mas a frente de meu computador, minha planilha de cotações, tudo que eu sabia não fazer era mentir. 

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