quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Homem do Auditório

Toda semana era sempre igual: o suor frio antes de entrar ao vivo, o suor que lhe escorria a face por causa dos holofotes, mesmo com o ar condicionado. A mão dolorida por causa das horas segurando o microfone dourado, sua marca registrada.

O terno incomodava, não era uma roupa adequada para permanecer boa parte do domingo. Se escolhesse, usaria algodão. Mas a imagem de um apresentador ainda tinha que ser mantida, mesmo que eles estivessem há um certo tempo deslocados do auge do sucesso.

A cada intervalo chamava a maquiagem e ia ao monitor que marcava o Ibope. Se um ponto caísse de seu percentual padrão sentia engulhos no estômago. Mas não podia se dar ao luxo de ter um desarranjo intestinal ao vivo, não no palco.

Eram incontáveis domingos, incontáveis ternos da mesma cor azul escura. O mesmo sorriso patético, clareado mais de três vezes no dentista, por causa do abuso dos cigarros, que fumava em casa, escondido, longe do público. Não podia afetar sua imagem de bom moço.

Conhecera todos os canais por dentro mas seu programa era o mesmo em todos. O formato da platéia cheia de mulheres, as gincanas que dão brindes ou dinheiros, os anunciantes que o irritavam e que, há dez anos, era imposição obrigatória de qualquer diretor.

Antes de entrar no palco, ao vivo, fazia o mesmo ritual. As luzes do espelho do camarim brilhavam como um sonho etéreo, o refrigerante de marca vagabunda que gostava de tomar, para sentir um gosto mais fétido que o de seu trabalho. Fixava em seu rosto, olhava os vincos, o cheiro forte do laquê que deixava seus cabelos perfeitos. Dizia a si mesmo que, após aquele domingo, iria desistir. Iria sumir das câmeras, inventar que estava doente.

Tinha cinqüenta e um anos e voltava à realidade quando batiam em sua porta, avisando sobre os dez minutos antes da entrada ao vivo. Então se recolhia, colocava o terno, apertava o nó da graveta que lhe incomodava, pegava o microfone guardado em uma caixa especial e sorria.

“Seu imbecil”, dizia. “Seu filho de uma puta imbecil”, repetia. E entrava em cena. Não havia mais para onde fugir.

Era tudo o que sabia fazer. Ser o patetico homem de logros e farsas no domingo.

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