sexta-feira, 28 de maio de 2010

Klakontex IX

O Guia do Mochileiro das Galáxias tem um verbete sobre Klakontex IX – não é dos mais brilhantes, alias é um daqueles verbetes escritos por pessoas estranhas que simplesmente entraram de gaiato na sede do Guia e perceberam que ninguém ali trabalhava de verdade e então resolveram eles mesmos escrever verbetes aleatórios – mas é o que temos, afinal alguém tem saco de ler a Enciclopédia Galáctica?

O verbete sobre Klakontex IX diz o seguinte:

O nono planeta do Sistema Klakontex é peculiarmente conhecido como o planeta dos odiadores de robôs.

O povo de Klakontex IX nasce odiando robôs, o que seria até certo ponto aceitável, não fosse o fato de que os klakontexianos são robôs.

Sim, você leu certo, os klakontexianos são robôs orgânicos, o que faz com que possam ter robozinhos, que nada mais são do que versões novas deles próprios, ou como diria o departamento de marketing da companhia cibernética de Sirius: “Seus amiguinhos de Plástico”.

Acontece que em Klakontex IX o número de homicídios – ou roboticídios, como preferir – é gigantesco, na verdade o 2º maior já registrado na galáxia, atrás apenas dos Silásticos Armademônios de Striterax. Logo quando os klakontexianos se apercebem que são todos robôs eles passam por uma grande crise existencial, onde decidem de fato se começam a se matar – ou destruir, como preferir – ou se suicidar. Mais ou menos 60% da população decide pelo homicídio (ou roboticídio...blablabla...). De qualquer forma Klakontex IX é um lugar horroroso, vive sempre em guerra e não possui nenhum tipo de diversão, afinal só robôs moram lá. E se você for um robô Klakontex IX é o último lugar para onde que deveria ir.

Marvin gastava um milionésimo infinitesimal de seu infinito cérebro pra se perguntar o que diabos estava fazendo em Klakontex IX.

Apenas esse esforço o fez lembrar que sua vida era miserável e que ninguém de fato parecia se importar muito com isso. E lembrou daquelas portas que gemiam quando alguém as abria. Ele odiava essas portas, mais até do que odiava todas as formas de vida. Ele já estava passando do seu nível normal de miserabilidade e autocomiseração quando resolveu tentar outra abordagem. Ele pensou que tudo poderia ser pior, ele lembrou que poderia estar chafurdando em um pântano qualquer em Squornshellous Zeta conversando com um colchão chamado Zem. Isso funcionou bem. Funcionou muito bem até. Marvin se sentiu menos miserável do que ele jamais se lembrava de haver se sentido antes. Começou a gostar da sensação. Curtia o momento, mesmo que tudo ao seu redor explodisse com robôs malucos tentando se assassinar ou suicidar. Tudo ia mais bem do que nunca antes estivera, até que ele ouviu aquele som habitual:

– Ahhhhhhhhhhhhhh!!!

Seguido de outro som mais habitual ainda:

– Marvin, meu garoto, eu tenho um pequeno probleminha para você resolver!

Ele olhou – com seu melhor momento em todos os tempos já dissolvido – e viu uma das duas cabeças de Zaphod Beeblebrox saindo pela porta gemidoura, enquanto o resto do seu corpo, bem como sua segunda cabeça, permaneciam escondidos atrás dessa mesma porta. E o sorriso de psicopata maníaco se unindo com aquela frase habitual fez Marvin dedicar um zilionésimo de zilionésimo da parte oriental do lado direito de seu cérebro infinito para pensar em como ele sempre se dava mal e acabava mais miserável ainda quando resolvia “pequenos probleminhas” para Zaphod Beeblebrox. E respondeu no auge da miserabilidade:

– Eu vou odiar isso, não vou?

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