segunda-feira, 17 de maio de 2010

faroeste

O boato corria em toda a cidade; Wally the Bull roubara a esposa de Jimmy Faceiro, ponto final. Foi um boato muito assertivo. Mas a certeza mesmo só veio outro dia, semana passada, no armazém.

Foi um dia ruim, praticamente pra todo mundo. Sexta-feira tinha começado tão mal para Johanna, a louca, que as únicas moedas que ela encontrou foram xelins de prata. Sim, divertido, curioso, colecionáveis, claro. Mas xelins não serviam mais pra nada, ali na terra do new dollar.

Então Johanna entrou no armazém, no exato momento em que todos saíam correndo. Porque lá dentro estavam Wally e Jimmy, armas no coldre e mãos sobre as armas. Balançavam os dedos se aprontando, olhos fixos nos outros olhos, ódio percorrendo o ar.

A louca entrou, caminhou por entre eles e parou ao pé do arroz. Um daqueles sacões de estopa, muitos quilos, poucas moedas que ela tinha pra gastar. Os dois homens pararam de se encarar e olharam para ela, calma ali, mexendo nuns dois grãos.

Então os homens se lembraram do que foram fazer ali; não era morte que eles buscavam, nem de longe. O som do arroz que Johanna mexia os fez lembrar que também queriam. Arroz.

Mas as mãos se movendo sobre os coldres não davam mais tempo para isso. Johanna pegou arroz, pôs sob o braço, caminhou de volta e, bem no caminho, pediu uma esmola pros dois cowboys. Uma moeda de um, uma nota de outro, obrigado meu bom rapaz!, ela disse, e nas lapelas dos homens deixou uns galhinhos, cheirando a umbanda.

Saiu. E quando os homens notaram, haviam comprado alecrim em vez de arroz. Mas era tarde, os coldres abertos não tinham mais armas. Dois tiros, e a cidade voltou ao normal...

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