quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Buk Buk Buk

Freud disse uma vez que um charuto é só um charuto. Tento evitar. Mas conheci uma mulher certa vez que sempre afirmava: não importa o quanto tentamos nos desvencilhar do velho barbudo, sempre voltamos a ele. Esse aforismo do psicanalísta, ou o que quer que seja isso, o que quer que seja ele, quer dizer que uma coisa é apenas uma coisa. Um homem fracassado, as vezes, é só um homem fracassado. Uma bebida com malte de vinte e cinco anos é só uma bebida malte vinte e cinco anos. Um beijo é só um beijo. As bundas não. Elas sempre são algo mais que as próprias nádegas. Bundas são uma ideia. Estou divagando.

Eu dizia que uma ideia é apenas uma ideia. Há constrição nisso. Ninguém consegue ver o que há por trás da ideia. Você observa um homem solteiro, malte trinta anos e diz a ele: “você esta assim por causa de um trauma de um amor passado” e ele cai direitinho. Outro começa a ter uma vida cheia de grana e gastos e você avisa “isso é para compensar sua infância pobre e cheia de sofrimento” e ele afirma que sim, era pobre e, puxa, tem razão.

Dessa maneira nunca soube se já levei alguma mulher para cama com o desejo dela ou se eu a fiz me querer. Bobagem. Tirem o senso comum. A cama. Mantenham a mulher se quiserem, elas sempre merecem serem mantidas. Vou de outro exemplo: Eu não sei se gosto de música clássica porque meu pai ouvia ou se realmente eu achei a música ideal da minha vida.

Gosto de sorvete de chocolate. Eu realmente gosto desse sorvete ou foi algo que minha mãe entupia minhas artérias quando criança? Não sei. O sorvete é só um sorvete mas, diabos, pode ser mais do que isso.

Enfim, era isso que eu falava para Cecília quando ela arregalava os olhos perto de mim. É por isso que não gosto de olhar as pessoas. Sempre olho para os lados quando falo com outros. Não tenho medo de gente. Tenho medo de não controlar meu olhar. Rir do nariz gigante, da catota, do arroto, dos peitos saindo pela blusa. Essa obsessão por peitos.

Fico confortável olhando para o outro lado. Ela sempre acha que estou olhando outra mulher, mas meus amigos me entendem. Alias, não lembro quando foi a ultima vez que olhei nos olhos dos meus amigos. Me bastam saber que estão lá acenando. Sou um cego que se guia por suas vozes.

Não gosto de beber. A cabeça gira, o pau amolece e no final tenho mais loucura sóbrio. E mais perspicácia se eu e a moça estiverem nus na cama, sóbrios. Talvez minha fixação não seja só pelas mulheres. Mas pelo controle da minha vida. E por bundas. Vai saber.

Mas a bebida está presente para transformar situações embaraçosas em momentos mais felizes. Um dia flagrei a mãe de uma conhecida fazendo sexo: “tudo bem, vamos tomar uma cervejinha e rir disso tudo”. A vida está uma merda: “vamos para o bar”. Preciso ter coragem de conquistar essa moça: “me traga mais uma dose”.

Acho engraçado um pormenor masculino. Normalmente eu reprovaria esse diálogo mas o que estou dizendo é um pensamento meu. Reparem, homens tem a capacidade de abstrair completamente o marido que anda com uma mulher desejada. Ela é linda, alta, radiante, loira, ruiva, morena e tem um homem ao lado. Se você a aponta aos seus amigos vocês dizem: “ela deve ser uma delícia nua” e automaticamente imagina ela fazendo sexo com ninguém. Homens tem a capacidade de anular os outros caras da jogada. Retiram o feio, ficam com o belo. Acho engraçado. Tive um amigo que sempre que mencionava uma mulher nua pensava nela se masturbando. Ele achava horrendo o fato de outros homens deixarem sua marca lá, antes dele.

No final, lembrei-me de minha amiga, do fundo do coração. Não lembro se era amiga ou colega, mas que ela me disse, disse. Não conseguimos sair de Freud. Freud esse comedor de mães e bundas. Não importa o que você faça, sempre existe algo que te diz que as coisas são mais que charutos.

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