segunda-feira, 31 de outubro de 2011

não se fazem leis ao outro mundo

Ele estava sentado ao canto do bar, bem longe do palco, enquanto no palco tocavam um som do Caribe. "Calypso Callaloo", pensou o negro solitário ao canto do bar. "Ê, Calypso, ê!".


A noite era fria e havia u'a neblina descendo do céu. Isso lá fora, claro, porque no Clube a neblina saía da altura dos joelhos do velho Walter, um cheiro adocicado de máquina de fumaça. O negro sozinho no canto fumava sua própria fumaça, bem mais amarga. Quando o jogo de luzes do palco girava um pouco, os raios coloridos iluminavam a careca do sujeito. Ele, pensando "Calypso, ê...", só fumava.

Uma família indiana, passando pela cidade, ouviu falar desse Clube e foi lá pra ver. Sentaram a um canto, no extremo oposto da sala, e eles e o negro sozinho eram os únicos lá, naquela noite. Além de Joshua, da garçonete nova estranha e, é claro, do velho Walter.

A garçonete perguntou ao negro se ele queria algo. A família indiana perguntou à garçonete se eles podiam acender um incenso. O negro queria cachaça. A garçonete disse que, com tanta fumaça, um incenso a mais ou ao menos não daria nada...

A cachaça chegou, enquanto o incenso queimava. O velho Walter do Callaloo continuava a tocar, enquanto as crianças da Índia corriam o salão inteiro. Era noite só de travessuras, pensou o negro isolado em seu canto.

Quando a porta abriu para uma linda mulher de cabelos vermelhos entrar, entrou também uma corrente de ar. O vento gelado rodopiou o incenso indiano e o negro viu, do outro canto, que a fumaça virava uma enorme borboleta.

Quando a ruiva sentou com o negro, ele soprou a fumaça do tabaco. Primeiro em círculos, depois em rodamoinho. "Rodamunho", disse a ruiva. Seu sorriso era felino.

Lá fora passava voando um morcego, a noite escura era fria e o negro, no Clube, coçava a única perna que tinha.

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