quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Arte de Caminhar Sozinho

Não foi necessário sentar-se de frente para o mar. Ver estrelas brilhando ao longe para concluir que nessa vida estamos sós. Bebendo partículas de solidão. Por isso compreendo os suicidas.

Acordo os dias sem ninguém esperando por mim. Pelas janelas, saboreio o sol. A luz opaca refrata-se fria. Tenho no sol meu parceiro silencioso e solitário. Cercado por um mundo feito de entulhos.

Queria ser capaz de chorar as copiosas lágrimas que vejo nos filmes. Mas de mim sai desespero seco. Não trazem o acalanto que machuca a cabeça, dando vontade de dormir. Alias, se, por ventura, me falta o sono, tomo uma pílula calmante. Se ainda continuar desperto, ingiro outra sem problemas.

Gasto meu dinheiro comigo, com quem mais? Fico em frente a televisão solitária acompanhando programas noturnos. Se tenho alguma epifanía, a faço em voz alta, como se dividisse com o invisível meus pensamentos.

Aquilo que escrevo não é lido por ninguém. Também me incluo na lista. Meros exercícios, deixados em gavetas, para que o tempo passe. Para ver o ponteiro fazer o percurso de uma hora sem tanto esforço.

Há dias uma sensação me invadiu, chegando a corroer o estômago. Não sei ao certo o que é. Apenas tenho. Os móveis continuam ao meu redor, como sempre. Não sei se os amo ou os esqueço em definitivo. Se deixá-los para trás, preservarei minha cama. É a única que me mantém bem na postura, junto com meus travesseiros ortopédicos. Acidente na infância, coluna doente para sempre.

Os tênis machucam meus pés. Unhas longas demais. Escolho os chinelos de tira larga, nada entre os dedos. Abro a porta de casa, eu e o sol na sua solidão sepulcral. Somos o mesmo astro em algum lugar imaginário.

Na esquina de casa, no posto, compro uma água mineral. E caminho. Sempre sozinho.

2 comentários:

  1. Bem bacana esse texto Thiago. Parabéns.

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  2. é definitivamente a maneira como eu enxergo a vida! somos sozinhos

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