- E a única coisa que a outra pessoa faz, então, julgando que o erro é mesmo teu, primordialmente teu, teu e apenas teu, é ficar quieta, sorrir com condescendência e ir embora, te deixar sozinho, remoendo o erro que supostamente é teu e de mais ninguém.
Àquela hora, tarde da noite, tão tarde que já chegava outro dia, não havia música. A maior parte das cadeiras estava sobre a mesa, pernas pro alto esperando que o mundo girasse para as colocar de volta no chão, sobre os quatro pés, dignamente. Do ponto de vista das cadeiras, entretanto, a volta do mundo era demorada, e por enquanto ficavam ali paradas, com as pernas sonolentamente erguidas.
- E o erro é teu?
- Quem sabe?! Pode ser, deve ser, sei lá! O problema, o ruim mesmo, não é de-quem-o-erro. O problema é ser tratado como se o erro fosse essencialmente teu! Meu, no caso.
- E é teu?
- Não sei, bicho, sei lá, isso pouco importa, verdadeiramente. Sério. Eu admito, eu aceito, o erro pode ser meu e tudo feito, tudo bem, sem problemas. Mas, porra, custava alguma coisa a outra pessoa pensar que talvez, só por acaso, ela estivesse também errada? Só um pouquinho? Só pra ajudar?
Silêncio no bar.
- E o erro é dela?
- Caralho, bicho chato! Sei lá, sei lá. Deve ser erro dela também, um pouco, ajudando o meu erro grande, mas quem é que sabe? Ruim é ficar assim, sendo amparado por uma compaixão que nem assume a possibilidade de errar...
A garçonete se aproximou.
- Aposto que querem mais uma bebida, certo?
- Errado! Nós já estamos de saída. Bom dia, Joana, bom dia.
E a porta se fechou nas costas daqueles dois, caminhando por entre as ruas amanhecidas de uma segunda.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Jogo dos Deuses - Parte 1
Rasg levantou o braço com um único movimento; rápido e
limpo, dilacerando a carne que prendia sua espada após a primeira estocada. Sangue
e órgãos internos espalharam-se pela grama, um cheiro putrefato atingiu as
narinas do bárbaro, seguindo o som de carne sendo rasgada. O corpo do orc
despencou aos seus pés, somando à pequena pilha de corpos sem via ao redor de
Rasg. Seus olhos, frenéticos, procuraram por outra vítima, vasculhando o
pequeno campo de batalha que se desenvolvia aos arredores, mas apenas o grupo
de viajantes permanecia em pé. O perigo havia passado. Rasg relaxou a mão ao
redor da bainha e desejou mais orcs para sua lâmina sedenta.
“Essas coisas continuam a surgir do nada”,
reclamou Crale. A elfa permanecia no mesmo lugar em que estava quando a emboscada
caiu sobre eles, colunas de fumaça desprendiam-se de seus dedos, os olhos
verdes agora apresentavam uma coloração roxa e seu rosto estava enrugado,
terrivelmente envelhecido.
“Não prestamos
atenção aos sinais”, disse Dargius, “vejam os padrões de galhos quebrados e
marcas nas árvores”. Em algumas árvores, um pequeno símbolo estava cravado: um
pequeno circulo, representando olhos escarlates, sinal universal para a raça.
“Isso não pode voltar a acontecer, tivemos sorte por ser apenas um punhado de
orcs. Da próxima vez, pode ser algo pior”.
Rasg deu um rápido
salto e pegou Talessa pelo pescoço em um firme aperto. “Não haverá próxima vez,
porque teremos um Rastreador melhor”, ele cuspiu as palavras no rosto fino de
Talessa, mostrando os dentes em um sorriso ameaçador.
Talessa tentou
falar, mas apenas grunhidos sem sentido escaparam da garganta esmagada pelo
forte bárbaro. Ele deu dois rápido tapas nos ombros de Rasg e no mesmo momento
o estrangulamento parou. “Eu deixei passar, minha culpa, desculpem”, disse
rapidamente, cada palavra parecia o corte de uma adaga. Rasg soltou
completamente seu pescoço e ele caiu no chão com um sonoro baque.
Dargius surgiu ao
lado do bárbaro e olhou para baixo, não fazendo esforço para esconder o
desprezo em seu olhar. “Você tem deixado passar muitos sinais, Talessa.
Primeiro foram as colunas de chama em Volerin, depois o doppelgänger e os
trolls nos Campos de Kallahar. Trolls, Talessa. Eles deixam sinais que até
mesmo Rasg poderia associar”, o bárbaro concordou sem notar a injúria.
“O que Dargius quis
dizer é que não confiamos em você, Talessa. Você está em nossa companhia há
pouco tempo e desde então, caímos em mais emboscadas do que nos anos
anteriores. Somos um grupo que carrega o nome do Reino de Lúmina e é nosso
dever zelar pelo nome e honra do Rei. Quando aceitamos seus serviços, foi
apenas para preencher uma lacuna momentânea em nossa estratégia. Precisamos de
um Rastreador, alguém capaz de seguir os sinais para as ruínas marcada no mapa.
Nós três, Rasg, Dargius e eu, somos pilares essenciais desta busca, você pode
ser facilmente descartado e substituído”, ela blefou. O Rastreador percebeu a modificação
no tom de voz e compreendeu a mentira. “Colocaríamos nossa missão em risco com
o atraso, mas seria um alívio ficar longe de suas músicas primitivas e seu
cheiro... também primitivo. Entenda isso e cumpra sua parte, ou suma antes que deixemos
Rasg fazer com você o que é natural para ele.” Crale cerrava os olhos e parecia
encarar a própria alma de Talessa, uma estranha estática circulava ao redor do
homem esguio.
Talessa arregalou
os olhos e tentou controlar o tremor que começava a tomar conta do seu corpo.
Mesmo parecendo muito velha, ele sabia seu corpo iria rejuvenescer, como todo
elfo faz: eles conjuram magias que consomem o tempo de vida que ainda possuem,
depois esperam até que seu corpo se recupere e voltam a lançar magias. Era um
ciclo. A maioria dos elfos morriam quando perdiam o controle das magias e
consumiam toda a vida que ainda
possuíam, principalmente os velhos, cujo tempo permitia apenas magia simples.
Podia sentir que estava prestes a ser destroçado por alguma magia negra da
elfa. De todos eles, era com ela que precisava tomar mais cautela. Um único
movimento dos dedos longos e ele seria história, um amontoado de carne torrada
e deformada por uma relâmpago conjurado. “Deixarei meus olhos abertos o tempo
todo, eu prometo!”
“Vamos acabar com
isso agora, assim poupamos mais dessa conversa irritante”, as palavras de Rasg
eram baixas e roucas, opondo-se ao som metálico de sua espada sendo
desembainhada.
Talessa começou a
rastejar para trás quando percebeu que os outros dois nada disseram para
impedir as intenções homicidas de Rasg e andou quase como uma aranha, apoiando
o peso do corpo nas mãos e pés, procurando um caminho seguro entre as árvores
da floresta escura. Rasg deu o primeiro passo para matá-lo, ou pelo menos
assustá-lo, não tinha certeza, apesar de ler as intenções do bárbaro. Talessa
viu o fio da espada, as inscrições ancestrais gravados no metal, imaginou
quantas almas aquela arma havia sugado sem piedade... então o tempo parou.
O grupo parou ao
mesmo tempo, impossibilitados de movimentar um único músculo. Ouviram vozes
misteriosas saindo dentre as árvores, sumonando sua presença, exigindo atenção.
Eram como pequenos tentáculos que vasculhavam suas mentes, impossíveis de serem
ignorados. Dargius foi o primeiro a levantar uma barreira mental, quebrando
assim o encatamento. Caiu pesadamente no solo, fazendo barulho com sua armadura
e apoiou as duas mãos na terra. Tremia convulsivamente e falhou duas vezes até
finalmente conseguir sustentar seu corpo sobre as pernas. Escutava seu nome. O
som não chegava aos seus ouvidos, mas tentava penetrar sua mente e tomar conta
de seu ser.
Uma imagem. Uma
irreconhecível forma pontiaguda.
Então, tão súbito
quanto começou, a voz cessou completamente.
Todos estavam
livres novamente, Rasg com a espada quase tocando o pescoço de Talessa e Crale
dobrada sobre o próprio estômago. Ela vomitava o conteúdo de seu estômago e Dargius
viu pela primeira vez um elfo demonstrando qualquer atividade humana.
Rasg baixou o braço
lentamente e olhou para os outros.
Após erguer-se do
chão e limpar a terra presa no tecido da calça, Talessa disse de forma tímida:
“O som veio de lá”, apontava um dedo para a esquerda. “Poucos minutos em passo
apertado”, uma gota de suor percorria o nariz aquilino e o brilho da
insegurança tomava conta de seu olhar, mas certeza nas palavras. “Eu sinto,
posso... farejar no ar, tão forte
quanto os orcs... é um cheiro diferente. Para lá.” Continuava a apontar para a
mesma direção.
“Vocês também
escutaram?”, Crale perguntou enquanto rosqueava a tampa do saco de couro. “Uma
voz, chamando meu nome, mostrando um caminho.” Ela bebeu avidamente para tirar
o gosto azedo da garganta.
“Mostre-nos o
caminho, Rastreador”, disse Dargius. Não era necessário dizer mais palavras. O
que viram, o que haviam escutado, estava estampado no rosto de cada um.
Crale limpou a água
que escorria pelo queixo, guardou a bolsa de couro e olhou para Gardius e Rasg,
ambos ávidos para explorar a possível fonte do chamado. “Não podemos”, ela
disse friamente. “Aceitamos nossa missão do Rei Laurecon, é nosso dever
percorrer até o final.”
Dargius olhou longamente
para a elfa antes de responder: “Você escutou, Crale. Aquilo estava nos
chamando. Precisamos desviar nosso caminho. Você vomitou! O que poderia afetar
seu organismo a esse ponto?”
“Não podemos!”,
gritou de volta. “Lúmina corre risco. Precisamos encontrar o velho mago naquelas
ruínas e voltar para Lúmina. Essa é a
nossa missão, não seguir vozes no meio da mata!”
Dargius ergueu as
duas mãos e berrou, quase encostando a testa na cabeça da elfa: “Pelos deuses,
Crale!” Os outros pararam, olhando para ele.
“Ótimo. Chame os
deuses sobre nós, Dargius.”
“Eu peço... eu peço
desculpas.” Olhava a elfa com os olhos faiscantes. Suas palavras estavam
poluídas pela fé, Crale percebeu prontamente. Ela também sabia que se tentassem
segurá-lo por mais tempo, sangue seria derramado. Havia muita história entre
ela e o jovem, horas de conversa para que tudo voltasse a ser como era anos
atrás. Uma época diferente, quando o inimigo não usava máscaras e havia o certo
e o errado. Tudo que ela via agora estava tingido de cinza e as ações eram ambíguas.
Como uma álien à sociedade humana, ela não entendia as maquinações e
conspirações internas, principalmente agora, em um momento de perígo único. Humanos, ela pensou com rancor, malditos humanos.
“A fonte está
perto?”, ela olhava para o Rastreador.
“Sim. Alguns
minutos.” Talessa erguia o nariz, como se fosse um cão farejador. Ou um porco
procurando por trufas.
“Vamos até ela.”
Virou-se para Dargius: “Apenas mais alguns minutos nessa besteira e depois
continuamos em nosso caminho. Vamos.” Isso
é um erro, Crale!, escutou sua própria voz. Muita coisa está em jogo para o luxo de brincadeiras como essa.
Talessa iniciou uma
corrida rápida na direção do cheiro que sentia, aliviado por deixar para trás
os orcs mortos. Seus sentidos estavam confusos pela fumaça deixada pela magia
de Crale, mas o ar puro da floresta logo atenuou o faro hipersensível. Suas
habilidades eram incríveis e há pouco tempo estava apendendo a usá-la para além
de seu treinamente enquanto Rastreador. Aprendeu a rastrear as intenções das pessoas através de pequenos desvios dos
olhos ou conforme levantavam a boca. Os ouvidos podiam captar mínimas
alterações na voz e aprendera a reconhecer os odores da mentira, da violência,
da coragem... e da Fé. Dargius tinha um cheiro que incomodava o rastreador.
Talessa sabia que se fosse contrariado, o humano atacaria prontamente a elfa,
traindo não apenas Lúmina, mas a milenar trégua entre as duas raças.
Olhou para trás e
viu os outros três seguindo seus passos. Poderia facilmente liderá-los para o
caminho errado, mas a qual propósito? Perguntou-se se algum dia contaria com a
fidelidade de Rasg, aceitando que seria um fato difícil de ser conquistado. Era
o novato entre eles, afinal.
Correram por cerca
de cinco minutos, os sinais ficando mais fortes a cada metro percorrido, e
quando a elfa abriu a boca para ordenar uma voltar, uma clareira abriu ao redor
do pequeno grupo, dando espaço apenas para uma única árvore em seu centro. Ela
era monumental. Talessa deixou a boca abrir em sincera surpresa. A árvore
corria centenas de metros acima do resto da floresta; as raízes, grossas e
fortes, pefuravam o solo e percorriam toda a área da larga clareira, formando
incontáveis ondas acima da terra e da grama. Os outros pararam atrás do Rastreador
e soltaram pequenos sons de aprovação. Dargius aceleou sem dar qualquer aviso e
começou a correr entre as raízes que rodeavam a enorme árvore, algumas delas da
expessura de um tronco humano.
“Dargius!”, a elfa tentou
alertar, mas o jovem continuou, ignorando-a. “Rasg, vamos!”
Eles seguiram o companheiro,
deixando para trás o Rastreador, ainda maravilhado com a imagem da árvore. Seus
olhos, capazes de uma visão cristalina de detalhes da Árvore, estavam
hipnotizados. Tessala estudou os estômatos das gigantescas folhas, os rios de
água que percorriam o caule e os galhos maravilhosos, os ninhos no topo da
grandiosa árvore e as aranhas atrozes que desciam em grossas teias.
Aranhas. Bosta!, ele pensou e começou a correr.
Dargius escostou
primeiro no milenar tronco de madeira. Ele havia parado ao alcance da árvore e
retirado uma das manoplas que vestia. Sentiu a vida fluir sobre seus dedos, era
impressionante a presença daquela criatura. É
como se pudesse andar. Sinto a vida dela como se falasse comigo. Dargius
não poderia estar mais certo: a voz novamente procurou alcançar sua mente,
clamando por sua atenção, para uma visita permanente. Pela segunda vez, a
sombra de um objeto disforme, cheio de ângulos pontiagudos, tomou conta de sua
visão. Ela, a árvore, queria mostrar algo e eles tinham de descobrir.
A voz minou suas
defesas. Entrou em sua mente. Dargius baixou todos os muros e se deixou inundar
por aquele poder que o cercava. Uma sensação agradável tomou conta de seu
corpo. Ele exergou mais sombras, parecidas com a primeira, em uma pilha quase
interminável: corpos confusos com ângulos retos e fechados, amontoados em uma
fina coluna sobre um fundo branco. A voz, macia e de certa forma quente,
implorava para ele vasculhar as profundezas do velho tronco, entrar no
labirinto de madeira e desvendar os mistérios que ela guardava, a voz pedia
para que ele... se movimentasse. Movimentar-me?
Não. Outra voz. Prestou atenção no que ouvia, tentando ao máximo ignorar a
mágica voz que julgava ser da Árvore. Uma
segunda voz. Também chamando pelo meu nome. Uma voz estridente. A segunda
voz estava carregada por forte urgência. Uma. Duas. Três... Por cinco vezes
escutou seu nome antes de reconhecer a voz quase fanha de Talessa. Dargius forçou
a voz para fora de sua cabeça, ainda que de forma relutante e focou sua atenção
para Talessa. Abriu os olhos. O mundo estava embaçado e tomava forma
lentamente. Dois vultos estavam ao seu lado, cambaleando uniformemente; um
terceiro crescia, indicando movimento em sua direção. Acima dele, seis bolas
negras cresciam vertiginosamente.
As formas ganharam
cores, depois contraste. E por fim, nitidez.
Talessa, Dargius
viu, corria com a besta em mãos, gritando para que eles saíssem do alcance de seis
aranhas que desciam dos galhos mais baixos da árvore. Com um crescente horror
em seu peito, ele viu esqueletos humanos e eqüinos presos pelas teias.
Prontamente, deu um salto para o lado e derrubou Rasg. Crale ainda cambaleava
ao lado deles, há pouco centímetros de uma aranha. A criatura preparou um golpe
e eles podiam ver gotas de veneno saindo do ferrão, pronto para empalar o corpo
da elfa. Um virote, no entanto, atingiu a aranha em um dos olhos e ela recuou,
emitindo sons estranhos e rasgados. Em seguida, Talessa pulou sobre a elfa e os
dois rolaram na confusa configuração de raízes.
Rasg empurrou o
guerreiro que estava atordoado por cima de seu corpo e sacou da espada, dando
um pequeno salto para ficar de pé. Retesou os músculos e formou um arco com a
espada, sentindo com prazer o contato do metal com o exoesqueleto das aranhas.
A força do golpe destroçou o abdômen de um dos monstros em incontáveis pedaços,
atravessando todo seu corpo negro, mas permaneceu emperrada no segundo
aracnídeo, que igualmente subiu na teia que havia deixado em seu caminho,
levando consigo a espada ainda profundamente presa. “Não!”, Rasg berrava.
Dargius agarrou a
própria espada e prepagou um golpe contra um dos monstros, mas um forte impacto
o derrubou novamente. Três patas o cercaram e ele viu o ferrão disparar
rapidamente contra suas pernas. Seus reflexos foram rápidos o suficiente para
afastar as coxas do ataque antes de rolar para um dos lados, mas estava cercado
por duas aranhas, tornando inúteis suas tentativas de escapar. Ele lutava
contra as patas que tentavam cercá-lo, até o momento em que uma das quelíceras
agarrou sua mão despida de armadura, derrubando veneno sobre a pele. Um
terrível cheiro de queimado e podridão atingiu suas narinas, quase ao mesmo
tempo que a terrível dor que percorreu todo seu braço. Ele gritou e gritou e
gritou.
“A besta emperrou!”,
Talessa avisou para a elfa.
Rolando sobre as
raízes para escapar das investidas da monstruosa aranha, Crale recitou as
palavras de poder o mais rápido que pôde. Esticou os dedos nas direção de seu
inimigo e deixou a energia sair de seu corpo na forma de três dardos
avermelhados. A elfa sentiu o ar ficar carregado com energia mística e a
estranha sensação que sentia quando liberava magias conjuradas com sua própria
força vital. Seu rosto envelheceu alguns anos, sentiu com a outra mão. Estou usando muitas magias, preciso descansar
ou acabarei com minha vida. Os olhos da aranha explodiram juntamente com o
restante da cabeça aracnídea e pedaços do pequeno cérebro cobriram o cabelo
élfico. Mesmo consciente dos risco extremo, ela permitiu que mais dois dardos
saíssem de seus dedos, matando uma das aranhas que atacam Dargius. Sua visão
embaçou e o mundo tornou-se negro, a vida parecia escapar pelos buracos de
energia pura que se formaram em seus dedos, mas a sensação diminui e abriu
espaço para a normalidade.
Agindo por instinto,
Rasg pulou sobre o corpo da aranha restante e forçou suas quelíceras para cima,
abrindo um ponto vunerável para Dargius. Talessa disparou outro virote acima da
cabeça do guerreiro, afundando o projétil na madeira da árvore. Dargius gritou
novamente, desta vez por vingança, e puxou o virote da madeira, afundando-o no
esôfago da critura. A aranha esperneou confusamente, derrubando Rasg na
manobra, e correu entre as raízes, caindo finalmente a meio caminho da próxima
árvore.
O cheiro de carne
queimada tomava conta do ar e Talessa sentia o almoço anterior revirar em seu
estômago, procurando escalar todo o caminho de sua garganta.
Crale retirou um
pedaço do cérebro de seu cabelo e ajoelhou ao lado do amigo, analisando rapidamente a ferida, enquanto Talessa engatilhava mais um virote em sua besta e
Rasg olhava para cima, procurando sua espada. O veneno corroeu a pele da mão
esquerda do guerreiro e invadiu seus sistema, a elfa notou. “Temos que sair
daqui o mais rápido possível, preciso voltar para a floresta procurar por
raízes para um atídoto...”
“Não...”, sua voz
estava embargada. “A Árvore... a Árvore está chamando. Precisamos descer até
suas raízes e descob-”
Ela desferiu um
tapa no rosto do rapaz, deixando a marca de seus dedos na bochecha branca. “Cale
sua maldita boca, porra!”, explodiu. O ódio causava estranheza não apenas às
pessoas ao redor, mas também nela. Era um sentimento quase novo para ela,
exótico à sua natureza. “Nossa missão é clara e Lúmina precisa de nós. Temos de apressar nossos passos, forçar as
montarias que ainda não possuímos e
tirar esse fardo de nossas costas. Mas primeiro precisamos tratar de seu braço,
acho que o veneno já está atacando seus nervos de forma irreversível.”
Ele concordou com a
cabeça, engolindo qualquer palavra que passou em sua mente. Levantou-se com a
ajuda dos outros até sentir que poderia permanecer ereto apenas com a própria
força. “Rastreie o velho ou a ruína... ou ambos”, disse para Talessa, “e vamos
logo para casa.” Dargius conhecia a Árvore com perfeição, sabia quantas folhas
havia em seus galhos e o número de galhos e raízes que havia. Eram legião.
Perto de onde estavam, uma parte da Árvore ameaçava ceder: estava oca, caindo
em uma coluna perfeitamente cilíndrica, provavelmente feita por vida
inteligente.
Buscou o Rastreador
com sua mão boa e o lançou violentamente contra o espáço frágil na gigantesca
árvore. Ouviu, satisfeito, o barulho da casca rompendo e do homem magro sendo
sugado pela escuridão, sem qualquer manifestação de surpresa ou ódio.
“Vamos para casa, mas
antes precisamos resgatar nosso Rastreador”, ele sorria, vitorioso. Xeque, pensou com malícia.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
quando um buda morre um buda não morre
- Não, obrigado, hoje só quero água.
- Com gás?
- Com gás.
O som era Zé Ramalho. O tempo, frio. A distância, longa.
Como todas as coisas no mundo, aquilo também mudava: mudava aquele dia, aquela tarde, mudavam semanas todas umas após as outras. Ninguém parecia notar.
Ou, se notavam, não comentavam sobre.
Era possível ver ali, naquele bar, as pessoas com mãos nervosas e olhares tensos, músculos retesados, tristezas escondidas e sorrisos alcoólicos. Dificilmente estavam sozinhas: a maior parte sentava à mesa com um ou mais outras, falando, falando, conversando sobre as coisas, prestando pouca atenção.
O observador atento percebia que, a cada fala, no meio de quase todo diálogo, os dialogantes se perdiam. Porque enquanto o outro falava, o um pensava em qualquer outro, qualquer outra coisa, qualquer tempo que não aquele agora.
E não gostavam, no fim das contas, de conversar. Falavam apenas para abafar o barulho que ressoava em seus próprios corações, mais alto que a jukebox no canto do Clube.
A água com gás chegou. Ela sorriu - garçonete e água. A tampinha sendo aberta chiou na medida certa, e de repente todo o bar notou.
Sorriu - o bar e cada um dos ali presentes.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Os Golfinhos são mais Inteligentes
Gaia pisou pela primeira vez em uma cidade. A deusa,
existente antes do próprio Tempo, evitava o ambiente urbano, preferindo as
profundezas inacessíveis dos oceanos, dormindo profundamente ao lado do Deus
Polvo, cujo único olhar poderia causar a loucura nos humanos. Humanos são
criaturas engraçadas, ela pensava, mentes fracas que se quebram pelos mais
fúteis motivos. Um único deitar de olhos em algo que não podiam entender e cuco, lá se vai a sanidade e eles
gritavam loucuras e jogavam fezes em pessoas ao redor. Às vezes se perguntava
até onde valia a pena acordar e se movimentar por eles. Sair do fundo da
profundidade abissal podia ser cansativo algumas vezes. Gaia, no entanto,
importava-se com as criaturas que viviam em sua crosta. Todas as criaturas, não importa quão estúpidas.
Ah sim, os humanos eram
estúpidos, tinha certeza a divindade: única espécie capaz de artificialmente
acabar com a própria existência, em mais de uma maneira. Um simples conjunto de
botões apertados e o relógio do fim-do-mundo alcança a fatídica marca de
meia-noite. Todas as culturas, todo o conhecimento acumulado, as maravilhas da
ciência... tudo por nada. Tudo, aliás, usado para o auto-genocídio. Auto-genocídio, pensou com o gigantesco
cérebro - cujas sinápses espalhavam-se pela flora e fauna de todo o planeta -
um conceito engraçado. Estúpidos.
Criaturas sem qualquer tipo de entendimento real sobre a vida e sobre o lugar
em que ocupam, exaurindo sistematicamente qualquer ponto em que se estabelecem,
envenando os rios, massacrando o que era verde e deixando para trás o cinza
tóxico; matando seus iguais, arrancando as peles dos animais para fazer roupas
que consideravam agradáveis aos olhos, tirando o balanço da vida. Criaturinhas
infames que precisavam de um relógio para contar o próprio fim.
O ar poluído da
cidade a deixava irritada. A chuva que caia sobre seus galhos e folhas era
ácida; a cacofonia absurda que saía dos carros ao seu redor perturbava as
células hipersensíveis das flores e ervas que constituíam seus ouvidos. Gaia
deixava um rastro por onde passava, seus pés criavam a vida onde tocava, bela e
única, cada passa um desenvolvimento singular de vida. Vida, que logo
desaparecia quando tocada pelos venenos da vida humana.
Criaturas absurdas!
Gaia evitou pensar
nos recipientes que tomavam conta dos oceanos, despreocupadamente despejados
nas águas gélidas das praias, matando peixes e corais, prendendo caramujos e
caracóis em seu interior, condenando-os à morte. Ao menos quinze espécies por
eles jamais documentadas estavam para sempre perdidas. Evitou pensar no uso
incorreto dos materiais mais complexos, que eles chamavam de urânio, e nos casos
em que se matavam sem pensar duas vezes. Na miséria de alguns espécimes, na
estúpida ignorância que usavam para cercar seus pensamentos, vivendo assim em
uma falsa felicidade. Insustentáveis, incoerentes... valeria a pena salvá-los?
A deusa achava que
sim.
Ela chegou em um
prédio, alto e isolado do resto da cidade. Seus dedos, um emaranhado milenar de
raízes e restos de pequenos mamíferos, encostaram no espaço entre os olhos da
criatura. Você é meu escolhido, fez
os ouvidos simplórios escutar, passe adiante
as minhas palavras e salve a espécie, ó escolhido. Essas imagens que agora vê
são o futuro para o qual o mundo caminha, mas há esperança. Nos momentos de
maior desespero, quanto até mesmo os deuses abandonaram o campo de batalha e as
Valkírias guiam os escolhidos, há esperança. É agora o seu papel fazê-los
enxergar e preparar para o Cataclisma. Entenda a importância, espalhe as visões
que agora dou-te livremente, mudando assim o rumo daquilo que já está escrito e
para sempre esteve. Vá, divulgue meus segredos; viva!
Estava satisfeita.
Seu trabalho estava feito. Tirou o dedo da testa do gato e confiou que ele
cumpriria seu papel. Gaia dissolveu-se em uma espiral de terra, areia, folhas,
animais e água, deixando para trás um caminho mais seguro para o humanos.
O gato parou de
lamber sua pata dianteira e olhou para onde a antiga deusa permanecia momentos
antes. Entendia, contrariando qualquer lógica racional, o que havia visto.
Precisava agir, naquele mesmo instante.
Percorreu os
telhados da cidade, pulando entre telhas e andares, compreendendo melhor a
física do mundo do que o mais brilhante dos humanos. Movimentos precisos,
cálculos complexos feitos com naturalidade. O gato pulou, correu, escorregou e
miou, convocando todos aqueles que entendiam seus sons para uma assembléia,
como uma que nunca aconteceu antes.
Caros irmãos, miou alto, para
que todos pudessem ouvir. Todos os felinos da cidade estavam reunidos no enorme
parque e miados abafados repediam o que ele acabara de dizer. A Grade Deusa prestou-me uma visita e
presentou-nos com os acontecimentos futuros. É nosso papel desviar a raça
humana dos erros presentes... E é também nosso papel ignorar o alerta.
Milhares de olhos
brilhavam no escuro. Milhares de sorrisos, como aquele que assustara a pequena
Alice, muitos anos no passado.
Nossa Era começou, ele miou,
maliciosamente.
Os miados acordaram
os moradores da cidade, curiosos com os dóceis animais reunidos entre as
árvores do parque.
Nossa Era começou! Miaram em
conjunto
http://www.thebulletin.org/content/media-center/announcements/2012/01/10/doomsday-clock-moves-1-minute-closer-to-midnight
http://www.thebulletin.org/content/media-center/announcements/2012/01/10/doomsday-clock-moves-1-minute-closer-to-midnight
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
até o sol raiar
- Às vezes me dá uma coisa, assim, que eu não sei.
Essa fôra a resposta. Sentados num canto escuro do Clube, sem cerveja naquela noite, os dois conversavam pouco sobre muita coisa. A conversa se esticava desde o fim da tarde, e agora a noite já ia ameaçando virar em madrugada.
- Mas, mesmo? Tu?
- Pois é, eu. Que tem?
Ficou sem jeito, a esposa.
- Ah, é que... tu, sabe como é. Tu nunca tem nada, tá sempre bem assim, tudo fluindo em tudo, responde sempre que ok, reclama nunca de nada.
- De quase nada.
- Tá, de quase nada. Mas ainda assim é muito praticamente nada, perto de todo mundo.
O outro sorriu.
- É, mas às vezes dá uma coisa.
- E por quê?
- Como é que eu sei?
Silêncio. Só a musga soava no som. Gilberto Gil. E era bom.
- Então, quando te dá essa coisa assim, que que tu faz?
- Nada. Fico só olhando.
- Nada? Nada de nada, não fala nem pra ninguém?
- Às vezes, mas costuma não dar em nada. Aí fico só com essa coisa assim, olhando, vendo de onde vem, pra onde vai, tentando fazer alguma coisa pra que a coisa vá embora...
Sorriu.
- Vem, morena, vamos dançar.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Metahistória
“Cara”, ele disse antes de tomar outro gole de cerveja.
Entornou longamente a bebida, deixando-o sem o resto da frase. Odiava quando
ele fazia isso. “Isso é animal!”
Na mesa, dois
computadores ligados, garrafas de cerveja, duas canecas com chá de algumas
horas antes e porções de amendoins. Em um dos computadores, um longo texto
estava sendo escrito; no outro, um jogo rodava na potente máquina, mostrando um
guerreiro negro espirrando sangue da cabeça de orcs e destruíndo ninhos de
dragões.
“O que é animal?”,
perguntou enquanto digitava no teclado nojento pela cevada derramada.
“Isso, esse jogo. É
quase uma versão minha de outro mundo. O que você está escrevendo?”
“Sobre um cara que
morre depois de escorregar em um panfleto de segurança.”
Ele sorriu para o
amigo. “Ah, a ironia.”
“Sim, também achei
engraçado. O cara anda, escorrega no papel e cai de cabeça. Morre olhando para
um panfleto sobre qualquer coisa de segurança, sei lá, pode ser instruções
sobre uso de capacetes em construções. Já pensei em tudo: no sangue escorrendo
como uma poça a se formar, o papel enxarcado, os papéis da pasta dele – o
protagonista tem sempre que carregar uma pasta com papéis – voando pela rua...
teremos até uma mulher com um bebê no colo, berrando desesperada, pedindo por
socorro para o estranho que está morrendo na frente dela.”
“Muito bom!”
“Mais ou menos.”
Uma chuva fina começava a cair na noite lisboeta.
“Por que mais ou
menos? Cacete, olha essa espada que achei!”
Inclinou-se na
cadeira e observou o novo item gerado por chance. Era, realmente uma arma muito
boa. “Boa pra caralho! Duas mãos?”
“Duas mãos. Mas
acho que vou manter meu escudo.”
“Não faça isso.
Essa espada vai destruir qualquer coisa... A história precisa de mais coisa,
mais detalhes. Não posso simplesmente colocar uma pessoa andando pela rua até escorregar
e morrer. Qual era seu nome, o que fazia naquele lugar? Qualquer um que ler vai
se perguntar essas coisas para criar laços com o personagem, ou a história será
um fracasso. O cara não pode simplesmente andar pela cidade com uma pasta na
mão. Não, ele precisa de propósito.
Ou terei um conto não lido e isso não é bom para ninguém.”
“Se você pensar, é
como você.”
“Eu vou morrer de
forma irônica, é isso?”
“Não sei, pode ser
que sim. Não tenho meios de saber isso. Se tivesse, estaria muito rico agora.
Você não me disse que se sentia assim algumas vezes? Sem propósito, sem os
laços dos quais falou?”
Pensou por algum
tempo. Abriu os lábios para responder, mas decidiu ocupar sua boca com a
cerveja. Respostas não esquentam depois de abertas.
“É tudo meta, cara.”
“Meta?”
“É, metalinguagem. Li
em algum lugar que trabalhamos para pagar por passatempos que preenchem nossa
vida para tirar nossas mentes da fatalidade que nos espera. Todos vamos morrer,
é a única certeza. Pode ser em sessenta anos, pode ser hoje mesmo. Então
evitamos pensar nisso o tempo todo e criamos histórias para entreter nossos
cérebros preocupados com a própria mortalidade, é assim a vida. Mas cada vez
mais essas histórias estão mais metas.
Olha só esse cara”, ele apertou um botão no teclado do notebook e a imagem de
um guerreiro apareceu. Ele vestia uma armadura de batalha cheia de cravos e
ângulos afiados, portava a nova espada, uma mochila e algumas tochas para
iluminar as masmorras, era um elfo negro. “Haser Moonkiller é um elfo negro,
mas estou centrando em combate corporal, contrário ao que todos fariam com um
personagem dessa raça. Elfos não são tão fortes quanto, digamos, um anão. Então
se quero jogar como um guerreiro, por que diabos não monto um anão, você está
se perguntando. Porque Haser Moonkiller não se contentou em seguir o fluxo, em
se limitar pelo modo como nasceu, com apenas algumas escolhas viáveis. Ele viajou,
ficou mais forte, aprendeu a esgrimar com maior precisão... ele seguiu o
próprio caminho, por assim dizer. O que é mais ou menos o modo como levo a
vida. Nunca escolhi o caminho mais fácil. Sempre pego a curva mais
interessante, você me conhece.”
Terminou a cerveja
e concordou com a cabeça. Estava ficando vermelho. Sempre ficava daquela cor
quando bebia, não importava a quantidade: se ingeria álcool, ficava escarlate
como a bunda de um babuíno. “Haser se preocupa com questões sociais?”
“Ah, é um elfo
negro guerreiro ativista. Único de sua estirpe.”
Deram risadas e
abriram mais cervejas.
“Ainda preciso
criar uma história para esse personagem. Pare de mudar de assunto.”
“Não estou. Escolha
meta, como fiz com Haser.”
Pensou por um
tempo. Desta vez não afogou a resposta na bebida, mas estralou os dedos das
mãos e começou a digitar com rapidez. Faria meta.
“Aliás, estou com
um blog com alguns amigos, estamos escrevendo pequenos contos. Quer participar?”
“Ah, valeu! Quero
sim. Posso escrever essa história, do cara que morre com o panfleto de
segurança.”
“Boa, faça isso!”
“Meta.”
“Meta.”
Beberam cerveja e
conversaram pelo resto de suas vidas.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
aliança
- Como assim, "casou"?
- Casei, ué. Simples. Casamos, na verdade. Ninguém casa sozinho.
O silêncio não existia, naquele Clube. A jukebox hoje estava cansada, fora da tomada, e um gramofone servia para tocar o som que enchia o lugar. Post-rock japonês, Hiiragi Fukuda, som agradável. Ambiente.
- Por falar em "ninguém casa sozinho", como diabos vocês casaram sem que ninguém soubesse? Sem testemunha, ninguém!?
Sorriu.
- Ora... casamos, simplesmente. Ela e eu, Eva e eu. Estávamos deitados, estávamos na cama. Pensei "e por quê não?". Não tinha por quê não. Então, pronto. Cá estamos.
- Casados.
- Pois é...
Sons de cervejas sendo abertas, portas sendo fechadas, vento varrendo calçadas.
- Mas nem ninguém, mesmo? Nenhum juiz pra assinalar a assinatura? Nem um mísero padre, meu velho?
Sorria.
- Nem um mísero padre. Nem juiz. Nem nada. Só os dois, que é quem conta.
- Certo... mas nem nada?
Sorri.
- Como nada? Que mais existe, além disso?
Cerveja, post-rock, Joana andando ao longe, um fone, dois gramas. A noite corria solta.
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