segunda-feira, 19 de novembro de 2012

quando um buda morre um buda não morre

- Não, obrigado, hoje só quero água.

- Com gás?

- Com gás.

O som era Zé Ramalho. O tempo, frio. A distância, longa.

Como todas as coisas no mundo, aquilo também mudava: mudava aquele dia, aquela tarde, mudavam semanas todas umas após as outras. Ninguém parecia notar.

Ou, se notavam, não comentavam sobre.

Era possível ver ali, naquele bar, as pessoas com mãos nervosas e olhares tensos, músculos retesados, tristezas escondidas e sorrisos alcoólicos. Dificilmente estavam sozinhas: a maior parte sentava à mesa com um ou mais outras, falando, falando, conversando sobre as coisas, prestando pouca atenção.

O observador atento percebia que, a cada fala, no meio de quase todo diálogo, os dialogantes se perdiam. Porque enquanto o outro falava, o um pensava em qualquer outro, qualquer outra coisa, qualquer tempo que não aquele agora.

E não gostavam, no fim das contas, de conversar. Falavam apenas para abafar o barulho que ressoava em seus próprios corações, mais alto que a jukebox no canto do Clube.

A água com gás chegou. Ela sorriu - garçonete e água. A tampinha sendo aberta chiou na medida certa, e de repente todo o bar notou.

Sorriu - o bar e cada um dos ali presentes.

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