segunda-feira, 12 de novembro de 2012

até o sol raiar

- Às vezes me dá uma coisa, assim, que eu não sei.

Essa fôra a resposta. Sentados num canto escuro do Clube, sem cerveja naquela noite, os dois conversavam pouco sobre muita coisa. A conversa se esticava desde o fim da tarde, e agora a noite já ia ameaçando virar em madrugada.

- Mas, mesmo? Tu?

- Pois é, eu. Que tem?

Ficou sem jeito, a esposa.

- Ah, é que... tu, sabe como é. Tu nunca tem nada, tá sempre bem assim, tudo fluindo em tudo, responde sempre que ok, reclama nunca de nada.

- De quase nada.

- Tá, de quase nada. Mas ainda assim é muito praticamente nada, perto de todo mundo.

O outro sorriu.

- É, mas às vezes dá uma coisa.

- E por quê?

- Como é que eu sei?

Silêncio. Só a musga soava no som. Gilberto Gil. E era bom.

- Então, quando te dá essa coisa assim, que que tu faz?

- Nada. Fico só olhando.

- Nada? Nada de nada, não fala nem pra ninguém?

- Às vezes, mas costuma não dar em nada. Aí fico só com essa coisa assim, olhando, vendo de onde vem, pra onde vai, tentando fazer alguma coisa pra que a coisa vá embora...

Sorriu.

- Vem, morena, vamos dançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário