domingo, 10 de junho de 2012

Joana Nas Alturas

Se Joshua fosse inteligente, realmente inteligente, não seria dono de um bar. Dificilmente saberia que Joana chegava antes do expediente, enquanto ele estava no escritório fazendo contas, e retirava uma nota pequena da caixa de emergências.

Mesmo que evitasse beber nas horas de trabalho, o ambiente esfumaçado e alcoólico deixava o clube etério. Nunca sabia ao certo a quantia que estava na caixa e, por via das dúvidas, colocava mais algumas notas lá dentro.

Joana, com óculos de sol grande e bem redondo, utilizava sua chave da porta lateral e permanecia a espreita. Certificava-se de que Joshua estava no escritório e, quase na penumbra, tateava a caixa e retirava o dinheiro. Para ela, o dono sabia dessa rotina, mas o que poderia fazer, pensava.

Ao menos duas vezes por mês ela precisava desse dinheiro para comprar maquiagem de emergência. Esconder as marcas que o marido deixava em seu rosto. Para ela, o patrão reconhecia os dias de pintura excessiva. Mas se estava realizando bem o seu trabalho, não era de sua alçada intervir em nenhum problema.

Talvez fosse por isso que Joana fosse Joana. A garçonete querida e desejada do Clube, que tratava os homens como nem mesmo suas mães o tratavam. Não a toa, boa parte dos bêbados ocasionais do lugar marcavam sua presença pelo afago caloroso que, mesmo sem tocá-los, ela produzia no ambiente.

Então, duas horas antes do expediente ela ia para o Clube, roubava o dinheiro necessário para a maquiagem do dia, comprava as cores na farmácia mais próxima e passava meia hora no banheiro feminino escondendo a destruição que o marido causava. E nesse pequeno espaço de tempo ela se transformava daquela mulher violentada pelo marido na mulher que todos conheciam.

No espelho confirmava seu talento para maquiagem. Sabendo que somente ela via as marcas que estavam embaixo. Como era comum, avisava a Joshua que estava no trabalho colocando a primeira música da noite na jukebox. Deixava que o som inaugural daquela noite lavasse sua alma e os pecados do marido. Agora ela era Joana. Ponto Final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário