quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dias Negros

A luz que incide sobre este corpo não aquece sua pele fria. São dias negros no seio dessa família.
Flores, capsulas de remédio e balas espalhadas por todo o salão. Não sabem há quanto tempo lá esteve, se morreu de fome, frio, tristeza, ou perdeu os miolos comido pelos ratos.

Seus restos mortais agarram uma foto, dando a impressão de que os homens impressos na velha fotografia foram de grande importancia para esse que se foi. O cheiro fétido ainda sutil atraí insetos e outros pequenos canibais que o devoram como um banquete.

Cada hora contada no relógio faz sua massa escorrer pelo chão. O restante de sua pele já escura fica mais emborrachada, escorregadia. Alguém irá descobri-lo dias depois. Ou um vizinho notando ausência de movimento ou uma camareira a arrumar os quartos, o inusitado. Ou ainda ninguém, morrendo eternamente assim, em uma gigantesca sepultura que seria roída anos após anos, junto com seus espólios.

Há cegos que souberam melhor lhe dizer o caminho onde chegou. Não sabemos - ainda - a causa de sua morte. Mas pouco importava seus sonhos, sua identidade, o lado preferido para dobrar o cabelo.

No chão daquela sala, com as cortinas pesadas deixando-o na penumbra, apenas com uma luz sobre ele, devido a um rasgo fino no pano, o que mais me intrigava, brotando em mim o incomodo e a tristeza é que ele era apenas um corpo, sem identificação.

Apenas um esqueleto apodrecido pelo tempo, sorrindo sem parar, com capsulas, balas e flores ao seu redor.

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