quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Como se fosse o final de um livro beatnik

A Fante, Rodrigues, Bandini, Pieroni e Durazzo


Se eu não estivesse envolvido nessa história, diria que faz parte de uma história romântica, dessas que eram publicadas em folhetins há muito tempo atrás. O fato é que Marta me chamou na porta lateral da igreja, dizendo que Cláudia falaria comigo e apenas.

Quando me anunciei frente a porta trancada, ouvi o clique que dava-me a entrada e a vi. Envergonhada no vestido branco como se tivesse nua. Aproximou-se de mim, tocando-me em um abraço e tentou um beijo. “Não. Não hoje. Não agora”, eu disse. E foi, provavelmente, a décima quinta vez que ela franzia o cenho só naquela manhã.

Conversamos por alguns momentos antes que eu sentasse na poltrona confortável perto a janela. Devo ter apagado por quase um minuto pois a ouvi me chamando. “É muito mais que você, Claudia. Há uma festa lá fora e todos te esperam”, falei. “É minha vida, Carlos, não uma festa”, me respondeu. “É seu pai, sua irmã, e aquele cara vestido de terno com uma gravata que não combina muito com a ocasião”, respondi, “eu não posso te tirar daqui quando você acredita que o melhor passo é fugir”.

Mas, afinal, há quem eu devia fidelidade? Era isso que eu pensava enquanto recostava minha cabeça na poltrona e imaginava o quanto essa cena que parecia cômica tinha um viés romântico. Mas não era um homem íntegro que salvava a mocinha. Há quinze minutos apertei a mão do noivo sem que ele soubesse que eu conhecia Cláudia mais do que ele poderia imaginar. Mas eu não conseguia ter empatia por ele. Nunca tive, ainda mais com aquela verruga.

Seria uma bobagem. Uma fuga idílica mas, pesei os prós e contras. Lá fora, todos me odiariam. Cinematograficamente falando poderia ser interessante. Suportar as conseqüências não. Me fariam um monte de perguntas que eu não gostaria de responder. Se juntassem A com B, poderíamos ter problemas. Mas sempre penso “aos diabos nessas horas”.

Confesso. Fui invadido por uma excitação que quase não pude conter. Me parecia estranho demais que eu repetisse um espetáculo que sempre via em comédias. Observei que o clichê da vida era semelhantes das películas. E que janelas amplas facilitam fugas.

Ao sair do quarto, Marta me perguntou o que Claudia queria. Disse que precisava de um detalhe que combinei que traria e esqueci no carro. A justificativa foi fraca mas, no desespero, aceitam qualquer bobagem.

Em dois minutos estávamos fora da igreja. Parei o carro quatro quadras após e perguntei se ela tinha certeza. Não se enganem, ela não fugia comigo. Eu era apenas o meio, não a causa. Mas, mesmo assim, decidi beija-la. Me senti um homem blasfemo beijando uma noiva que não era minha. “Sim, eu tenho”, afirmou.

O telefone de Martha deve ter vibrado em suas mãos e tremido quando ela notou meu número. Lá estava eu, no caminho de um enforcamento por um crime onde eu não era o culpado. Ou quase. Optei por limitar minhas palavras. “Marta, a porta do quarto está aberta. Assim você terá a ingrata missão de avisar que não haverá nenhuma cerimônia hoje. Ela me disse para não dar mais nenhuma informação e nem avisar nosso paradeiro”, desliguei. Talvez tenha exagerado, principalmente na parte de fugir sem nenhum paradeiro. Onde eu estava com a cabeça, afinal? Me sentindo como Bonnie e Clyde?

Tudo que eu pensava no momento era na cara que o rapaz faria no altar. Eu esperava que alguém, por curiosidade, estivesse filmando. Eu imprimiria a imagem e deixaria em cima de algum lugar onde eu pudesse sempre rir.

Eu era um homem fugindo com uma noiva que não era minha mas estava mais em minha vida no que na dele. E não podia deixar de perder a sensação de que a qualquer momento uma trilha sonora patética tocaria no além.

Mas lá estava ela, do meu lado, segurando uma de minhas pernas, enquanto eu iria para qualquer lugar tentando convencê-la a esquecer os velhos hábitos. Talvez eu amasse essa mulher. Provavelmente, não. Mas naquele momento era onde eu queria estar. E ela ainda continuava linda naquela roupa prisão.

Amanha eu a convenceria de seu erro. E da burrice de evitar um casamento inevitável. Tinhamos vinte e quatro horas. Tirei uma das mãos do volante e toquei uma de suas coxas. De repente, achei que elas se encaixavam tão bem. Costumo ser um homem de princípios. Mas velhos hábitos são difíceis de perder.

“É bom ter você por mais alguma horas”, e sorrimos e nos beijamos.

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