Um homem entra no Clube. Roupa alinhada. Desespero no rosto. Aproxima-se de Joana, quero uma caixa de fósforos. Olha as prateleiras de bebida e completa, e a bebida mais forte que tiver. Ela olha de esguelha, mas a nota da onça amarela brilha no balcão sujo e a convence.
Ele tromba na saída com Jakis, outro frequentador do Clube que tem nome americano, embora seja mais brasileiro que a caipirinha. Curioso e preocupado, acompanha o trajeto do homem que dá a volta no local, rumo a queimada carcaça de caminhão nos fundos.
No emaranhado de lata agonizante há uma pilha de papéis. Joga a bebida sobre eles, deixando Jakis depressivo pelo desperdício, e acende um, dois, três palitos de fósforo. O fogo ilumina o ambiente. Alguém no mictório do clube os observa pela janela. O homem ri desenfreadamente, dança em círculos.
Jakis decide se aproximar, o homem antecipa o encontro e o abraça. As roupas alinhadas não anulam os dias sem banho. O homem não parece bêbado, apenas alterado de alguma maneira.
"Pronto, pronto. Está feito", ele diz, olhando nos olhos de Jakis, como se ele fosse testemunha de um acontecimento único.
"O que, meu velho? Para mim você gastou só uma boa bebida", responde a ele.
O homem lhe entrega o que sobrou da garrafa como saudação. Prossegue. "Encontrei duas... Não, não, três caixas de minhas anotações feitas há mais de seis anos atrás. E, por Deus, são horríveis. Eu precisava dar um jeito nisso imediatamente. Olhe, olhe, deixei esse pedaço como recordação" e estica na sua frente uma página rabiscada. Jakis se esforça para ler na escuridão: "Caminho nas ruas imaginando que com uma das mãos aceno para as pessoas e, na outra, empunho uma arma fictícia. Escudo que tenta me proteger dos outros. Proteger a alma que nunca se fecha." Ergue os ombros, tanto faz. Não entende aquilo que leu.
"O problema, meu amigo, é que há muitas histórias no mundo, entendeu?" Jakis meneia com a cabeça, pensando na garrafa que está segurando. Dá um gole aproveitando o silêncio que fica no ambiente. O homem ergue a mão como quem ignora o comentário e começa a jornada de volta para casa.
Jakis volta ao clube, percebendo que ficou com o papel ofertado pelo homem. Senta no balcão, conta a Joana o acontecido e a entrega o texto. Ela lê rapidamente, dobra-o e coloca dentro do sutiã.
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