Mesmo que evitasse beber nas
horas de trabalho, o ambiente esfumaçado e alcoólico deixava o clube etério.
Nunca sabia ao certo a quantia que estava na caixa e, por via das dúvidas,
colocava mais algumas notas lá dentro.
Joana, com óculos de sol grande e bem redondo, utilizava sua chave da porta lateral e permanecia a espreita.
Certificava-se de que Joshua estava no escritório e, quase na penumbra, tateava
a caixa e retirava o dinheiro. Para ela, o dono sabia dessa rotina, mas o que
poderia fazer, pensava.
Ao menos duas vezes por mês ela
precisava desse dinheiro para comprar maquiagem de emergência. Esconder as
marcas que o marido deixava em seu rosto. Para ela, o patrão reconhecia os dias
de pintura excessiva. Mas se estava realizando bem o seu trabalho, não era de
sua alçada intervir em nenhum problema.
Talvez fosse por isso que Joana
fosse Joana. A garçonete querida e desejada do Clube, que tratava os
homens como nem mesmo suas mães o tratavam. Não a toa, boa parte dos bêbados
ocasionais do lugar marcavam sua presença pelo afago caloroso que, mesmo sem tocá-los,
ela produzia no ambiente.
Então, duas horas antes do
expediente ela ia para o Clube, roubava o dinheiro necessário para a maquiagem
do dia, comprava as cores na farmácia mais próxima e passava meia hora no
banheiro feminino escondendo a destruição que o marido causava. E nesse pequeno
espaço de tempo ela se transformava daquela mulher violentada pelo marido na mulher que todos conheciam.
No espelho confirmava seu talento para maquiagem. Sabendo que somente ela via as marcas
que estavam embaixo. Como era comum, avisava a Joshua que estava no trabalho
colocando a primeira música da noite na jukebox. Deixava que o som inaugural daquela noite lavasse sua alma e os pecados do marido. Agora ela era Joana.
Ponto Final.
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