Nas quintas – feiras, e em nenhum
outro dia, venho tomar café nessa padaria. Minha esposa está de folga,
portanto, dorme até o almoço. Não me sinto motivado para preparar um desjejum
para uma pessoa.
Quando chego, aguardo por volta
de cinco minutos para que chegue essa mulher desconhecida. Acompanho-a com o
olhar pelo vidro de fora e peço meu café somente quando ela também escolhe. Usa
cabelos presos de uma maneira que, mesmo assim, eles caiam tanto na frente
quanto atrás dos ombros.
Usa sempre azul. Pode ser sua cor
favorita, a roupa tradicional de quinta – feira ou um sistema. Recomendação do
horóscopo, da televisão ou de quem quer que seja. Sempre coloca a bolsa na
cadeira da frente, fazendo-me deduzir que não espera ninguém, retira o casaco e
senta. Uma postura ereta que destaca o alinhamento das costas.
A roupa sem mangas deixa o braço
nu. Enquanto ela se movimenta para abrir o jornal na página desejada vejo seus
músculos se mexerem. Ela é magra, mais baixa que minha estatura de um metro e
oitenta, esguia. Não consigo não ter simpatia por essa mulher.
Apenas trocamos cordialidades. Digo
Olá e recebo seu sorriso de volta. Dependendo do dia, é um misto de felicidade e
angústia revelada em apenas um gesto. Pedimos nossos cafés e voltamos a
contemplar nossos abismos. Deixaria minha vida naquelas mãos em um suspiro.
Sapatilhas vermelhas, jeans
nivelado ao corpo e a blusa azul. Os cafés chegam ao mesmo tempo e desejo saúde
a ela erguendo minha xícara para o alto. Ela me lembra alguém. Me lembra alguém
que já esqueci. A moça do café me lembra de uma memória que parece trazer a
tona um pensamento que não me recordo. Uma mensagem dentro de uma garrafa que
precisa ser decifrada.
Ela me olha enquanto escrevo essa
mensagem. Seus olhos parecem cúmplices do meu como se eu precisasse concordar
com o café matinal todas as quintas – feiras. Sim, tudo está tranquilo. Foi um
bom café.
Me apaixono por ela todas as
quintas pela manhã e a tarde o mundo se equilibra novamente. Ela é apenas uma figura que por algumas horas deixa meu norte um pouco mais para o leste. E, então, na
próxima quinta feira ela retorna. A mesma postura, a roupa azul, a cumplicidade
de estranhos que tomam seu café em silêncio em uma das cidades mais
movimentadas do país.
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