- Não. Sou só apresentador. Assim, apresentador, nada de tevê nem de rádio, nem de programa na net, nem nada. Só apresentador.
- Mas, diabos, o que então você apresenta?
- Pessoas, meu bem, pessoas. Eu sou um apresentador de gentes, de gente que não sabe falar pra gente que não sabe ouvir, mas que a despeito disso estariam muito bem juntas. Você ficaria espantado com a quantidade de gente que não sabe se mostrar, e mais espantado com a quantidade de gente que não sabe ver.
- Ouvir.
- Como?
- Ouvir. As pessoas num geral não sabem ver e também não sabem ouvir.
- É. E sabe o motivo?
- Do que?
- De não ouvirem.
- Hm... não. Quer dizer, desculpa, eu estava pensando em outra coisa. O motivo de quê, mesmo?
Israel sorriu. Ele era um apresentador, fazia isso com o pé nas costas.
- Por isso ninguém sabe ouvir, por isso ninguém se apresenta. Pior: por isso ninguém sabe receber quem aparece. Porque todo mundo está pensando em outra coisa, em si mesmo, nos próprios problemas. Na própria apresentação.
- Ah...
- "Ah", é. Foi o que pensei.
Na jukebox alguém coloca uma ficha e aperta dois botões: linha e coluna. B-42. Era um disco antigo, mas por algum motivo a máquina não desceu a agulha no lugar certo. Ficou ali, pendurada, tocando silêncio no Clube por alguns segundos, até que o dono da ficha fez algo que o botaria pra fora do bar - deu um tapa na lateral da jukebox, como se fosse máquina de pinball.
Joshua deu um tapa nele e mandou dali pra fora, mas a ação já fora tomada. A jukebox começou a tocar um disco antigo, mas que não era o da posição B-42. Ficaria pra outro dia, o colapso dos multiversos...
ele quer apresentar as pessoas que não sabem se mostrar para as pessoas que não sabem ver e ouvir? diga-me onde encontrar esse cara
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