Marcaram o primeiro encontro nas
vésperas das férias escolares. Quando recorda a história, não se lembra o que
vestiu, tamanho o nervosismo. Lembra que se olhou uma última vez no espelho
após ela tocar o interfone lhe dizendo: oi, sou eu. Frase que o fez sorrir pela
maneira como ela se anunciava. Eu, quem?, pensou. Mas sabia que era a garota,
não esperava mais ninguém.
Percebia que embora a sequência
dos acontecimentos fosse evidente, não saberia descrevê-los por completo. Tudo
que via era pequenos flashes: o caminho até a sorveteria em que brincou com o
sobrenome dela, o mesmo de uma loja local. O fio de conversa que conseguiram
manter durante todo o trajeto, não dando espaço ao silêncio esmagador. A
conversa na sorveteria sobre filmes, literatura, seriados e todo o blá blá blá
de um nerd que sabia o nome de toda a equipe do homem morcego e falas completas
do primeiro Duro de Matar.
Ele gostava da maneira como ela
lhe ouvia e, atenta aos fatos, pontuava suas opiniões em meio a suas frases
repleta de referências. Frases que hoje lhe fazem pensar, deus, como ela não
saiu correndo dali? Imagina a cena pelo olhos dela, lhe perguntando o que a fez permanecer ali.
Quando ela lhe disse, não, não
li, em resposta à pergunta você já leu o Guia do Mochileiro das Galáxias?, ele
soltou o primeiro olhar enviesado da noite. Era um simulacro incrédulo de raiva
para fazê-la rir. Subiu seu tom de voz perguntando-lhe como não e versou por
cinco minutos aproximados sobre como o livro de Douglas Adams poderia ser
considerada a bíblia sagrada.
A conversa prosseguiu após o
sorvete e depois do aviso da dona do estabelecimento de que fechariam em quinze
minutos. Foram caminhando até suas casas. Ao chegar na frente de seu prédio, hesitou. Perguntou se poderia acompanhá-la até sua casa. Em parte, prezando
a segurança, em outra porque não gostaria de abandoná-la. Pediu que aguardasse um momento e subiu para seu apartamento. Distraiu-se no espelho, ajeitando um fio de cabelo que insistia em seu rosto. Prestes a trancar a porta, lembrou-se do porquê fora a casa. Foi até a estante, retirou um de seus livros com cuidado, colocando-o na mochila. E saiu.
Passaram a noite em claro
conversando e trocando beijos. Amanhecia e, naquele mesmo dia, eles voltariam
para suas cidades para as férias. Sem querer, guardavam uma surpresa um para o
outro. Ela lhe deu uma foto, para você lembrar de mim. Ele, abrindo a mochila, retirou
cuidadosamente seu exemplar do Guia do Mochileiro das Galáxias e entregou a ela. Para reparar esse terrível erro em sua conduta nerd, disse.
Se beijaram e se despediram.
Tanto fazia se haveria sol ou chuva naquele dia.
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