segunda-feira, 29 de abril de 2013

fanzini

O dia quase escorria pra fora da noite, beiradas de muros altos tocando estrelas. Era uma pena, pensava, que aquilo tudo acabasse ali, que depois de lá não houvesse nada.

- Ela não veio, veio?

- Veio não. Por que viria?

- Não sei. Por tudo que a gente fez, tudo que passou. Pelos anos juntos, pelos anos separados mas com pensamento ativo. Coração ligado.

- Sei. Sei. Mas não. É mais que isso pra qualquer viagem, precisa mais que isso pra qualquer viagem.

Explodiam pequenas estrelas cometas de cauda quadrada pela imensidão do espaço. O som na sala era agradável, uma pontada de tristeza e peso amarrada nas pernas.

- Lembra o que minha vó dizia - dizia ele -, que dava uma dor, umas pontadas aqui. Bem aqui.

Aí ele apontava, mostrava a perna, os nervos, joelho.

- Ah, tô bem, mas me dói tudo. Dói aqui.

E apontava.

Uma estrela cadente se despedaçou em quatro ou cinco, caiu em torno deles. Dava pra ver pela janela. Um sorria, enquanto o outro esfregava as mãos na dor.

Chegando a cerveja, Joana, chegando outra alma na mesa, a dor também despedaçou. Eram estrelas que caíam em volta, na rua, do céu, refletindo a boa maré de outra noite. Quando tirou as mãos do joelho, parou de apontar, percebeu despontava de janela adentro um pedaço da estrela caída no asfalto.

Uma estrela velha, como todas eram. Estrela que já vira antes.

E as coisas que brilham sem nem nos darmos conta, vez por outra, brilham mais acenam tchau. De repente estava ali, de repente já não mais. De repente em tudo, de repente dentro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário