- Sabe, cara, eu não tenho muito o que dizer. Assim, eu tenho muita coisa, claro, mas eu dificilmente digo, sabe como é? Dificilmente digo, especialmente se não tenho ninguém comigo, ou ninguém falando comigo. Eu até falo muito, mas é tudo de reação. Eu sou reativo, bicho. O que eu faço, tudo que eu faço, é sempre em resposta a algo, alguém, alguma coisa, alguma história. Mora? Porque, cá entre nós, nada mais foda que fala de maluco pancada, né não? Não acha? Então. É o que eu tô te falando, irmão. Mas vê só, tô te falando só porque perguntou, tu perguntou quando sentou aqui e agitou as duas, ahn, coisas aí, antes de coçar o nariz, virar a cana e pedir bis, pedir mais uma pra garçonete. Aquela ali, não a loira. A mais baixinha, a que quer confete quando faz gracinha. Ô garçonete boa, vou te falar, boa boa boa, e a cerveja tá sempre geladinha, mas é cheia de graça essa mina. Não sei se é só comigo, tomara que não, porque o santo não bateu, sabe qualé? Bateu não, apesar de ela ser um avião. Como não? E tu é o que pra dizer isso, Gisele Bintche? Ah, vá.
O salão estava vazio, as luzes fechadas, cadeiras por sobre a mesa, e com uma velha cerveja enlatada o doido falava, sentado à calçada, com uma mosca.
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