segunda-feira, 22 de abril de 2013

você

Joana podia sentir o ar de fim em torno da mesa. Ele sorria, ainda, ela já não, e Joana era capaz de dizer, vendo ao longe, onde aquilo daria.

- Desculpa - ela disse.

Ele sorriu, melancólico. "Não há o que desculpar", pensou.

- Não há o que desculpar - disse.

Ela não sorria mas olhava intrigada para o sorriso dele, ali em sua frente, triste, sério, calmo, confiante.

- Claro que há! Eu não consigo, eu não consegui, eu te amo tanto mas mesmo assim...

"Mesmo assim não quer ficar. Mesmo assim não quer tentar. Sem esforço, sem dedicação", pensou ele.

Mas não falou. Apenas continuou sorrindo, cada vez mais calmo e triste, enquanto ela chorava pouco a pouco, as lágrimas varrendo a neve de dentro, criando rios de decepção.

- Eu quero que você fique bem. Que fique feliz! Que você volte a sorrir.

"Que eu volte a sorrir sem essa tristeza presa, você quer dizer...", mas a decência o manteve quieto.

- Eu sorrio. Vou sorrir sempre. Mas não sorrio a todo momento, não quando estou sozinho. Fique tranquila, vou voltar a sorrir bem.

Ela pareceu aliviada.

- Que bom que não sorri o tempo todo! As pessoas na rua te achariam um doido.

Agora ela sorriu. A cerveja chegou à mesa e Joana, por um momento, olhou nos olhos daquele rapaz sentado ali, sorrindo mas nem tanto.

"Eu era, então, um doido. As pessoas que me viam tinham isso na cabeça, 'vejam aquele doido! sorrindo sozinho, rindo sem por quê. Vejam, vejam!' Mas eu sorria sozinho, como você poderia saber?"

Antes de ir embora, afinal, ele apenas sorriu e desejou que ela estivesse bem dali pra frente, já que dali pra trás ele não pudera fazer com que fosse feliz.

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