segunda-feira, 3 de setembro de 2012

nascimento

Sentado, com o copo nas mãos - porque nosso herói sempre está sentado com o copo nas mãos -, ele sorria levemente ao gelo que derretia dentro do uísque. Na verdade preferia cerveja, mas um uísque pareceu mais apropriado. E um charuto. Um charuto também. Nosso herói hoje era pai, e aquilo merecia - diziam que merecia - comemoração.

Ele comemorava.

Sentado, ignorando o som ambiente, ignorando o ambiente, ignorando os amigos todos, ignorando até o próprio pé, nosso herói pouco a pouco derretia o gelo do uísque com o olhar belo de um novo pai. Era o que ele era, afinal! Ele era pai. Meu deus, pensou, meu deus do céu, que meu pai pensaria nesse dia? Que ele seria avô! Puta merda, deus pai, deus vô, sei lá. Legal, não?

O velho não estava mais nesse plano aqui, ele era etéreo, mas o moleque que nascera tinha algo do vô no formato da cabeça, algo da vó no sorriso largo, e provavelmente mais algos de outros avós que ele particularmente não conseguia reconhecer.

Mas reconheceria. A partir de agora, tinha toda a vida para observar essa vida. Essa vida nova.

O gelo derretia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário