- E a única coisa que a outra pessoa faz, então, julgando que o erro é mesmo teu, primordialmente teu, teu e apenas teu, é ficar quieta, sorrir com condescendência e ir embora, te deixar sozinho, remoendo o erro que supostamente é teu e de mais ninguém.
Àquela hora, tarde da noite, tão tarde que já chegava outro dia, não havia música. A maior parte das cadeiras estava sobre a mesa, pernas pro alto esperando que o mundo girasse para as colocar de volta no chão, sobre os quatro pés, dignamente. Do ponto de vista das cadeiras, entretanto, a volta do mundo era demorada, e por enquanto ficavam ali paradas, com as pernas sonolentamente erguidas.
- E o erro é teu?
- Quem sabe?! Pode ser, deve ser, sei lá! O problema, o ruim mesmo, não é de-quem-o-erro. O problema é ser tratado como se o erro fosse essencialmente teu! Meu, no caso.
- E é teu?
- Não sei, bicho, sei lá, isso pouco importa, verdadeiramente. Sério. Eu admito, eu aceito, o erro pode ser meu e tudo feito, tudo bem, sem problemas. Mas, porra, custava alguma coisa a outra pessoa pensar que talvez, só por acaso, ela estivesse também errada? Só um pouquinho? Só pra ajudar?
Silêncio no bar.
- E o erro é dela?
- Caralho, bicho chato! Sei lá, sei lá. Deve ser erro dela também, um pouco, ajudando o meu erro grande, mas quem é que sabe? Ruim é ficar assim, sendo amparado por uma compaixão que nem assume a possibilidade de errar...
A garçonete se aproximou.
- Aposto que querem mais uma bebida, certo?
- Errado! Nós já estamos de saída. Bom dia, Joana, bom dia.
E a porta se fechou nas costas daqueles dois, caminhando por entre as ruas amanhecidas de uma segunda.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
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