sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Jogo dos Deuses - Parte 1


Rasg levantou o braço com um único movimento; rápido e limpo, dilacerando a carne que prendia sua espada após a primeira estocada. Sangue e órgãos internos espalharam-se pela grama, um cheiro putrefato atingiu as narinas do bárbaro, seguindo o som de carne sendo rasgada. O corpo do orc despencou aos seus pés, somando à pequena pilha de corpos sem via ao redor de Rasg. Seus olhos, frenéticos, procuraram por outra vítima, vasculhando o pequeno campo de batalha que se desenvolvia aos arredores, mas apenas o grupo de viajantes permanecia em pé. O perigo havia passado. Rasg relaxou a mão ao redor da bainha e desejou mais orcs para sua lâmina sedenta.
“Essas coisas continuam a surgir do nada”, reclamou Crale. A elfa permanecia no mesmo lugar em que estava quando a emboscada caiu sobre eles, colunas de fumaça desprendiam-se de seus dedos, os olhos verdes agora apresentavam uma coloração roxa e seu rosto estava enrugado, terrivelmente envelhecido.
“Não prestamos atenção aos sinais”, disse Dargius, “vejam os padrões de galhos quebrados e marcas nas árvores”. Em algumas árvores, um pequeno símbolo estava cravado: um pequeno circulo, representando olhos escarlates, sinal universal para a raça. “Isso não pode voltar a acontecer, tivemos sorte por ser apenas um punhado de orcs. Da próxima vez, pode ser algo pior”.
Rasg deu um rápido salto e pegou Talessa pelo pescoço em um firme aperto. “Não haverá próxima vez, porque teremos um Rastreador melhor”, ele cuspiu as palavras no rosto fino de Talessa, mostrando os dentes em um sorriso ameaçador.
Talessa tentou falar, mas apenas grunhidos sem sentido escaparam da garganta esmagada pelo forte bárbaro. Ele deu dois rápido tapas nos ombros de Rasg e no mesmo momento o estrangulamento parou. “Eu deixei passar, minha culpa, desculpem”, disse rapidamente, cada palavra parecia o corte de uma adaga. Rasg soltou completamente seu pescoço e ele caiu no chão com um sonoro baque.
Dargius surgiu ao lado do bárbaro e olhou para baixo, não fazendo esforço para esconder o desprezo em seu olhar. “Você tem deixado passar muitos sinais, Talessa. Primeiro foram as colunas de chama em Volerin, depois o doppelgänger e os trolls nos Campos de Kallahar. Trolls, Talessa. Eles deixam sinais que até mesmo Rasg poderia associar”, o bárbaro concordou sem notar a injúria.
“O que Dargius quis dizer é que não confiamos em você, Talessa. Você está em nossa companhia há pouco tempo e desde então, caímos em mais emboscadas do que nos anos anteriores. Somos um grupo que carrega o nome do Reino de Lúmina e é nosso dever zelar pelo nome e honra do Rei. Quando aceitamos seus serviços, foi apenas para preencher uma lacuna momentânea em nossa estratégia. Precisamos de um Rastreador, alguém capaz de seguir os sinais para as ruínas marcada no mapa. Nós três, Rasg, Dargius e eu, somos pilares essenciais desta busca, você pode ser facilmente descartado e substituído”, ela blefou. O Rastreador percebeu a modificação no tom de voz e compreendeu a mentira. “Colocaríamos nossa missão em risco com o atraso, mas seria um alívio ficar longe de suas músicas primitivas e seu cheiro... também primitivo. Entenda isso e cumpra sua parte, ou suma antes que deixemos Rasg fazer com você o que é natural para ele.” Crale cerrava os olhos e parecia encarar a própria alma de Talessa, uma estranha estática circulava ao redor do homem esguio.
Talessa arregalou os olhos e tentou controlar o tremor que começava a tomar conta do seu corpo. Mesmo parecendo muito velha, ele sabia seu corpo iria rejuvenescer, como todo elfo faz: eles conjuram magias que consomem o tempo de vida que ainda possuem, depois esperam até que seu corpo se recupere e voltam a lançar magias. Era um ciclo. A maioria dos elfos morriam quando perdiam o controle das magias e consumiam toda a vida que ainda possuíam, principalmente os velhos, cujo tempo permitia apenas magia simples. Podia sentir que estava prestes a ser destroçado por alguma magia negra da elfa. De todos eles, era com ela que precisava tomar mais cautela. Um único movimento dos dedos longos e ele seria história, um amontoado de carne torrada e deformada por uma relâmpago conjurado. “Deixarei meus olhos abertos o tempo todo, eu prometo!”
“Vamos acabar com isso agora, assim poupamos mais dessa conversa irritante”, as palavras de Rasg eram baixas e roucas, opondo-se ao som metálico de sua espada sendo desembainhada.
Talessa começou a rastejar para trás quando percebeu que os outros dois nada disseram para impedir as intenções homicidas de Rasg e andou quase como uma aranha, apoiando o peso do corpo nas mãos e pés, procurando um caminho seguro entre as árvores da floresta escura. Rasg deu o primeiro passo para matá-lo, ou pelo menos assustá-lo, não tinha certeza, apesar de ler as intenções do bárbaro. Talessa viu o fio da espada, as inscrições ancestrais gravados no metal, imaginou quantas almas aquela arma havia sugado sem piedade... então o tempo parou.
O grupo parou ao mesmo tempo, impossibilitados de movimentar um único músculo. Ouviram vozes misteriosas saindo dentre as árvores, sumonando sua presença, exigindo atenção. Eram como pequenos tentáculos que vasculhavam suas mentes, impossíveis de serem ignorados. Dargius foi o primeiro a levantar uma barreira mental, quebrando assim o encatamento. Caiu pesadamente no solo, fazendo barulho com sua armadura e apoiou as duas mãos na terra. Tremia convulsivamente e falhou duas vezes até finalmente conseguir sustentar seu corpo sobre as pernas. Escutava seu nome. O som não chegava aos seus ouvidos, mas tentava penetrar sua mente e tomar conta de seu ser.
Uma imagem. Uma irreconhecível forma pontiaguda.
Então, tão súbito quanto começou, a voz cessou completamente.
Todos estavam livres novamente, Rasg com a espada quase tocando o pescoço de Talessa e Crale dobrada sobre o próprio estômago. Ela vomitava o conteúdo de seu estômago e Dargius viu pela primeira vez um elfo demonstrando qualquer atividade humana.
Rasg baixou o braço lentamente e olhou para os outros.
Após erguer-se do chão e limpar a terra presa no tecido da calça, Talessa disse de forma tímida: “O som veio de lá”, apontava um dedo para a esquerda. “Poucos minutos em passo apertado”, uma gota de suor percorria o nariz aquilino e o brilho da insegurança tomava conta de seu olhar, mas certeza nas palavras. “Eu sinto, posso... farejar no ar, tão forte quanto os orcs... é um cheiro diferente. Para lá.” Continuava a apontar para a mesma direção.
“Vocês também escutaram?”, Crale perguntou enquanto rosqueava a tampa do saco de couro. “Uma voz, chamando meu nome, mostrando um caminho.” Ela bebeu avidamente para tirar o gosto azedo da garganta.
“Mostre-nos o caminho, Rastreador”, disse Dargius. Não era necessário dizer mais palavras. O que viram, o que haviam escutado, estava estampado no rosto de cada um.
Crale limpou a água que escorria pelo queixo, guardou a bolsa de couro e olhou para Gardius e Rasg, ambos ávidos para explorar a possível fonte do chamado. “Não podemos”, ela disse friamente. “Aceitamos nossa missão do Rei Laurecon, é nosso dever percorrer até o final.”
Dargius olhou longamente para a elfa antes de responder: “Você escutou, Crale. Aquilo estava nos chamando. Precisamos desviar nosso caminho. Você vomitou! O que poderia afetar seu organismo a esse ponto?”
“Não podemos!”, gritou de volta. “Lúmina corre risco. Precisamos encontrar o velho mago naquelas ruínas e voltar para Lúmina. Essa é a nossa missão, não seguir vozes no meio da mata!”
Dargius ergueu as duas mãos e berrou, quase encostando a testa na cabeça da elfa: “Pelos deuses, Crale!” Os outros pararam, olhando para ele.
“Ótimo. Chame os deuses sobre nós, Dargius.”
“Eu peço... eu peço desculpas.” Olhava a elfa com os olhos faiscantes. Suas palavras estavam poluídas pela fé, Crale percebeu prontamente. Ela também sabia que se tentassem segurá-lo por mais tempo, sangue seria derramado. Havia muita história entre ela e o jovem, horas de conversa para que tudo voltasse a ser como era anos atrás. Uma época diferente, quando o inimigo não usava máscaras e havia o certo e o errado. Tudo que ela via agora estava tingido de cinza e as ações eram ambíguas. Como uma álien à sociedade humana, ela não entendia as maquinações e conspirações internas, principalmente agora, em um momento de perígo único. Humanos, ela pensou com rancor, malditos humanos.
“A fonte está perto?”, ela olhava para o Rastreador.
“Sim. Alguns minutos.” Talessa erguia o nariz, como se fosse um cão farejador. Ou um porco procurando por trufas.
“Vamos até ela.” Virou-se para Dargius: “Apenas mais alguns minutos nessa besteira e depois continuamos em nosso caminho. Vamos.” Isso é um erro, Crale!, escutou sua própria voz. Muita coisa está em jogo para o luxo de brincadeiras como essa.
Talessa iniciou uma corrida rápida na direção do cheiro que sentia, aliviado por deixar para trás os orcs mortos. Seus sentidos estavam confusos pela fumaça deixada pela magia de Crale, mas o ar puro da floresta logo atenuou o faro hipersensível. Suas habilidades eram incríveis e há pouco tempo estava apendendo a usá-la para além de seu treinamente enquanto Rastreador. Aprendeu a rastrear as intenções das pessoas através de pequenos desvios dos olhos ou conforme levantavam a boca. Os ouvidos podiam captar mínimas alterações na voz e aprendera a reconhecer os odores da mentira, da violência, da coragem... e da Fé. Dargius tinha um cheiro que incomodava o rastreador. Talessa sabia que se fosse contrariado, o humano atacaria prontamente a elfa, traindo não apenas Lúmina, mas a milenar trégua entre as duas raças.
Olhou para trás e viu os outros três seguindo seus passos. Poderia facilmente liderá-los para o caminho errado, mas a qual propósito? Perguntou-se se algum dia contaria com a fidelidade de Rasg, aceitando que seria um fato difícil de ser conquistado. Era o novato entre eles, afinal.
Correram por cerca de cinco minutos, os sinais ficando mais fortes a cada metro percorrido, e quando a elfa abriu a boca para ordenar uma voltar, uma clareira abriu ao redor do pequeno grupo, dando espaço apenas para uma única árvore em seu centro. Ela era monumental. Talessa deixou a boca abrir em sincera surpresa. A árvore corria centenas de metros acima do resto da floresta; as raízes, grossas e fortes, pefuravam o solo e percorriam toda a área da larga clareira, formando incontáveis ondas acima da terra e da grama. Os outros pararam atrás do Rastreador e soltaram pequenos sons de aprovação. Dargius aceleou sem dar qualquer aviso e começou a correr entre as raízes que rodeavam a enorme árvore, algumas delas da expessura de um tronco humano.
“Dargius!”, a elfa tentou alertar, mas o jovem continuou, ignorando-a. “Rasg, vamos!”
Eles seguiram o companheiro, deixando para trás o Rastreador, ainda maravilhado com a imagem da árvore. Seus olhos, capazes de uma visão cristalina de detalhes da Árvore, estavam hipnotizados. Tessala estudou os estômatos das gigantescas folhas, os rios de água que percorriam o caule e os galhos maravilhosos, os ninhos no topo da grandiosa árvore e as aranhas atrozes que desciam em grossas teias.
Aranhas. Bosta!, ele pensou e começou a correr.
Dargius escostou primeiro no milenar tronco de madeira. Ele havia parado ao alcance da árvore e retirado uma das manoplas que vestia. Sentiu a vida fluir sobre seus dedos, era impressionante a presença daquela criatura. É como se pudesse andar. Sinto a vida dela como se falasse comigo. Dargius não poderia estar mais certo: a voz novamente procurou alcançar sua mente, clamando por sua atenção, para uma visita permanente. Pela segunda vez, a sombra de um objeto disforme, cheio de ângulos pontiagudos, tomou conta de sua visão. Ela, a árvore, queria mostrar algo e eles tinham de descobrir.
A voz minou suas defesas. Entrou em sua mente. Dargius baixou todos os muros e se deixou inundar por aquele poder que o cercava. Uma sensação agradável tomou conta de seu corpo. Ele exergou mais sombras, parecidas com a primeira, em uma pilha quase interminável: corpos confusos com ângulos retos e fechados, amontoados em uma fina coluna sobre um fundo branco. A voz, macia e de certa forma quente, implorava para ele vasculhar as profundezas do velho tronco, entrar no labirinto de madeira e desvendar os mistérios que ela guardava, a voz pedia para que ele... se movimentasse. Movimentar-me? Não. Outra voz. Prestou atenção no que ouvia, tentando ao máximo ignorar a mágica voz que julgava ser da Árvore. Uma segunda voz. Também chamando pelo meu nome. Uma voz estridente. A segunda voz estava carregada por forte urgência. Uma. Duas. Três... Por cinco vezes escutou seu nome antes de reconhecer a voz quase fanha de Talessa. Dargius forçou a voz para fora de sua cabeça, ainda que de forma relutante e focou sua atenção para Talessa. Abriu os olhos. O mundo estava embaçado e tomava forma lentamente. Dois vultos estavam ao seu lado, cambaleando uniformemente; um terceiro crescia, indicando movimento em sua direção. Acima dele, seis bolas negras cresciam vertiginosamente.
As formas ganharam cores, depois contraste. E por fim, nitidez.
Talessa, Dargius viu, corria com a besta em mãos, gritando para que eles saíssem do alcance de seis aranhas que desciam dos galhos mais baixos da árvore. Com um crescente horror em seu peito, ele viu esqueletos humanos e eqüinos presos pelas teias. Prontamente, deu um salto para o lado e derrubou Rasg. Crale ainda cambaleava ao lado deles, há pouco centímetros de uma aranha. A criatura preparou um golpe e eles podiam ver gotas de veneno saindo do ferrão, pronto para empalar o corpo da elfa. Um virote, no entanto, atingiu a aranha em um dos olhos e ela recuou, emitindo sons estranhos e rasgados. Em seguida, Talessa pulou sobre a elfa e os dois rolaram na confusa configuração de raízes.
Rasg empurrou o guerreiro que estava atordoado por cima de seu corpo e sacou da espada, dando um pequeno salto para ficar de pé. Retesou os músculos e formou um arco com a espada, sentindo com prazer o contato do metal com o exoesqueleto das aranhas. A força do golpe destroçou o abdômen de um dos monstros em incontáveis pedaços, atravessando todo seu corpo negro, mas permaneceu emperrada no segundo aracnídeo, que igualmente subiu na teia que havia deixado em seu caminho, levando consigo a espada ainda profundamente presa. “Não!”, Rasg berrava.
Dargius agarrou a própria espada e prepagou um golpe contra um dos monstros, mas um forte impacto o derrubou novamente. Três patas o cercaram e ele viu o ferrão disparar rapidamente contra suas pernas. Seus reflexos foram rápidos o suficiente para afastar as coxas do ataque antes de rolar para um dos lados, mas estava cercado por duas aranhas, tornando inúteis suas tentativas de escapar. Ele lutava contra as patas que tentavam cercá-lo, até o momento em que uma das quelíceras agarrou sua mão despida de armadura, derrubando veneno sobre a pele. Um terrível cheiro de queimado e podridão atingiu suas narinas, quase ao mesmo tempo que a terrível dor que percorreu todo seu braço. Ele gritou e gritou e gritou.
“A besta emperrou!”, Talessa avisou para a elfa.
Rolando sobre as raízes para escapar das investidas da monstruosa aranha, Crale recitou as palavras de poder o mais rápido que pôde. Esticou os dedos nas direção de seu inimigo e deixou a energia sair de seu corpo na forma de três dardos avermelhados. A elfa sentiu o ar ficar carregado com energia mística e a estranha sensação que sentia quando liberava magias conjuradas com sua própria força vital. Seu rosto envelheceu alguns anos, sentiu com a outra mão. Estou usando muitas magias, preciso descansar ou acabarei com minha vida. Os olhos da aranha explodiram juntamente com o restante da cabeça aracnídea e pedaços do pequeno cérebro cobriram o cabelo élfico. Mesmo consciente dos risco extremo, ela permitiu que mais dois dardos saíssem de seus dedos, matando uma das aranhas que atacam Dargius. Sua visão embaçou e o mundo tornou-se negro, a vida parecia escapar pelos buracos de energia pura que se formaram em seus dedos, mas a sensação diminui e abriu espaço para a normalidade.
Agindo por instinto, Rasg pulou sobre o corpo da aranha restante e forçou suas quelíceras para cima, abrindo um ponto vunerável para Dargius. Talessa disparou outro virote acima da cabeça do guerreiro, afundando o projétil na madeira da árvore. Dargius gritou novamente, desta vez por vingança, e puxou o virote da madeira, afundando-o no esôfago da critura. A aranha esperneou confusamente, derrubando Rasg na manobra, e correu entre as raízes, caindo finalmente a meio caminho da próxima árvore.
O cheiro de carne queimada tomava conta do ar e Talessa sentia o almoço anterior revirar em seu estômago, procurando escalar todo o caminho de sua garganta.
Crale retirou um pedaço do cérebro de seu cabelo e ajoelhou ao lado do amigo, analisando rapidamente a ferida, enquanto Talessa engatilhava mais um virote em sua besta e Rasg olhava para cima, procurando sua espada. O veneno corroeu a pele da mão esquerda do guerreiro e invadiu seus sistema, a elfa notou. “Temos que sair daqui o mais rápido possível, preciso voltar para a floresta procurar por raízes para um atídoto...”
“Não...”, sua voz estava embargada. “A Árvore... a Árvore está chamando. Precisamos descer até suas raízes e descob-”
Ela desferiu um tapa no rosto do rapaz, deixando a marca de seus dedos na bochecha branca. “Cale sua maldita boca, porra!”, explodiu. O ódio causava estranheza não apenas às pessoas ao redor, mas também nela. Era um sentimento quase novo para ela, exótico à sua natureza. “Nossa missão é clara e Lúmina precisa de nós. Temos de apressar nossos passos, forçar as montarias que ainda não possuímos e tirar esse fardo de nossas costas. Mas primeiro precisamos tratar de seu braço, acho que o veneno já está atacando seus nervos de forma irreversível.”
Ele concordou com a cabeça, engolindo qualquer palavra que passou em sua mente. Levantou-se com a ajuda dos outros até sentir que poderia permanecer ereto apenas com a própria força. “Rastreie o velho ou a ruína... ou ambos”, disse para Talessa, “e vamos logo para casa.” Dargius conhecia a Árvore com perfeição, sabia quantas folhas havia em seus galhos e o número de galhos e raízes que havia. Eram legião. Perto de onde estavam, uma parte da Árvore ameaçava ceder: estava oca, caindo em uma coluna perfeitamente cilíndrica, provavelmente feita por vida inteligente.
Buscou o Rastreador com sua mão boa e o lançou violentamente contra o espáço frágil na gigantesca árvore. Ouviu, satisfeito, o barulho da casca rompendo e do homem magro sendo sugado pela escuridão, sem qualquer manifestação de surpresa ou ódio.
“Vamos para casa, mas antes precisamos resgatar nosso Rastreador”, ele sorria, vitorioso. Xeque, pensou com malícia.

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