- Às vezes me dá uma coisa, assim, que eu não sei.
Essa fôra a resposta. Sentados num canto escuro do Clube, sem cerveja naquela noite, os dois conversavam pouco sobre muita coisa. A conversa se esticava desde o fim da tarde, e agora a noite já ia ameaçando virar em madrugada.
- Mas, mesmo? Tu?
- Pois é, eu. Que tem?
Ficou sem jeito, a esposa.
- Ah, é que... tu, sabe como é. Tu nunca tem nada, tá sempre bem assim, tudo fluindo em tudo, responde sempre que ok, reclama nunca de nada.
- De quase nada.
- Tá, de quase nada. Mas ainda assim é muito praticamente nada, perto de todo mundo.
O outro sorriu.
- É, mas às vezes dá uma coisa.
- E por quê?
- Como é que eu sei?
Silêncio. Só a musga soava no som. Gilberto Gil. E era bom.
- Então, quando te dá essa coisa assim, que que tu faz?
- Nada. Fico só olhando.
- Nada? Nada de nada, não fala nem pra ninguém?
- Às vezes, mas costuma não dar em nada. Aí fico só com essa coisa assim, olhando, vendo de onde vem, pra onde vai, tentando fazer alguma coisa pra que a coisa vá embora...
Sorriu.
- Vem, morena, vamos dançar.
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