"Quanto tempo", foi a frase de minha terapeuta ao me ver. Duas palavras ditas de maneira tão bem composta que não compreendi se era ironia ou apenas constatação. "Não me lembro quanto", e não me lembrava. Não me agarro aos calendários.
Conversamos sobre a escrita literária. "Não consigo compor", disse. "Parece um texto fraco, mimado, raquítico", continuei. "E porque você simplesmente não escreve, em vez de pensar?", perguntou-me. "Mas isso não é literatura", e não era.
Quando adolescente, em processo proto-escritor, tive a fase poeta. Em versos de rimas pobres, temáticas frias e romanticas. Ao envelhecer, assumi a verve prosaica. Falo demais, escrevo também. O sincretismo poético que vá aos diabos.
"O problema é que não dá para ativar um sistema. Despertar com a consciência de estar pronto. Sim, agora sou um escritor. Há elementos mais frágeis que isso. Doí", repliquei. Nunca era questão de escrever. Palavras seguem palavras, as vezes sem razão. Explosões não são literatura.
Mas eu precisava de um caminho, um significado para que aquelas palavras não fossem em vão. As mesmas palavras repetidas, oração de rosários aquebrantados pelo tempo. Eu queria levantar-me da poltrona e sair da sessão. Negava minha incompetência de escrever. Por falta de esforço. Por me acreditar especial. Venham, venham até a mim, meninas. Me inspirem com seus corpos nus, musas. Quero banhar-me de sua insensatez.
Eu tinha vinte e cinco anos. Não sabia de nada.
Continuo sem saber.
E o texto continua mesmo sem os subsequentes paragrafos ocultos...! Cheers
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