quarta-feira, 13 de março de 2013

Perdendiculares

Em 2003, perdi um amor ou ele me perdia. Faço esta afirmação pelo fato dela ser um ponto de partida. Anos depois, recordei este fato em um texto de qualidade literária duvidosa com certo sentimento genuíno.

Nele expunha duas situações em uma mesma linha de raciocínio. A história do amor perdido era uma exemplificação para explicar uma tese.

Não me recordo em que momento decidi desistir daquele amor. Talvez tenha pensado em prós e contras, feito uma lista careta e, matematicamente, escolhido romper os laços. O elemento mais provável, porém, foi que medi meu sofrimento em relação ao amor e o resultado não foi positivo. Preferi sair ferido com honra em uma batalha perdida do que lutar por algo que eu não conseguiria vencer. A história da vida de Sun Tzu.

A narrativa em questão, do texto sem qualidades, iniciava-se com uma afirmação. A derrota dita com coragem: eu abdico. Mais do que lavar as mãos, eu assumia o retorno dos soltados a terra natal. Nada havia a fazer exceto deixar as mãos abertas, como chagas, para que o sangue – ou o que estive dentro de mim, na época – escorresse.

O paralelo era estabelecido entre a história de amor quebrada com outra história que tinham como relação a desistência. Na época, a idéia parecia interessante, hoje falta-me a lembrança do que me motivou a escrever de fato. Porém, sempre ao me recordar de um fracasso, lembro-me do texto e de suas correlações. Uma linha de falhas e desistências que se formam, como um quadro, para de vez em quando, admirar e se incomodar, como diria Leminski, como se um homem com uma dor fosse melhor do que se é.

Recentemente tenho escrito indiretamente sobre envelhecimento e maturidade. Talvez por estar em transições como estas. O curioso de escrever é poder, após um tempo, olhar para suas narrativas com a sensação de que ganharam vida própria. Ao mesmo tempo que, indiretamente, elas acompanham as mudanças que direcionei minha vida. Os reflexos no papel me lembram de história na vida real.

Com mais idade compreendi que não há erro na derrota. A perda é um equilíbrio da vítória. Com essa afirmação esbarro no senso comum, mas é inevitável, é um bom raciocínio.

Assumir falhas não me fazem diminuto. Me deixam espiritualmente com o prazer de ser humano. Fracassar de milhões de maneiras diferentes. Chorar mesmo que no escuro. Mesmo que no chuveiro sentado no chão soluçando o mais silenciosamente possível para não ferir minha masculinidade que acredita que homens não choram.

Então, mais uma vez me vi diante de minha vida e suas situações. Como se tivesse olhares ansiosos aguardando-me no horizonte. Cheguei a imaginar uma luz sobre minha cabeça, fazendo-me transpirar mais que o normal, mas era somente uma cena. Um desvio involuntário pelo medo de afirmar que novamente eu abdicava. Abdicava das histórias, declinava qualquer acontecimento futuro.

Não há alegria na velocidade se provoca grilhões. Diante disso, eu abdquei. Com a sensação de um traço bem delineado. De um trabalho bem feito, se posso menear minha conduta como um trabalho propriamente. Não digo que tenho as mãos atadas. Elas estão livres. É por isso mesmo que abdiquei. Dando mais um passo, outro seguimento, as histórias de minhas desistências. Livre e sorrindo por dentro. Minha fidelidade ainda mantinha-se em mim.

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