Olhei em seus olhos amendoados. Uma pequena lágrima se formou nos meus. “Sinta-se beijada”, disse a ela de maneira tão terna e calma que minha voz falhou na última sílaba. Nossa respiração cadenciada.
O perfume de pêssego irradiava no ar quando ela, perceptivelmente, parecia nervosa. “Me beije, então”, me pediu, quase cerrando os olhos. Dei um passo para trás. Nossas vidas em separação.
Ela chorou na estação derradeira. Entreguei o embrulho de alegrias, risos, festas e pedaços de bolo de chocolate. Era tudo que restava.
Aproximei-me novamente. Toquei seu rosto com a face das mãos. Inclinei a cabeça na sua. O hálito não era doce. “Eu só lhe desejo o melhor. Não importa onde eu estiver. Daquela estrela cintilante lá do céu eu estarei sorrindo”. Sua lágrima escorreu em minha mão. Beijei seu rosto para sentir o gosto. Lágrima de sal.
Segundos que deram silêncio. Meus olhos nos seus aprisionados. O relógio a nossa frente movimentou seus ponteiros. Meus olhos nos seus repousados. “Mande notícias”, falei. “Pode deixar”, mentiu.
Soltou-se o nó de nós. Dois em lágrimas. Coração aos berros. Demos as mãos apertando-as com força. Deixamo-as se desencontrarem. Coração aos pulos.
“Eu te amo”, lhe falei. Com a alma de lágrimas puras. “Eu também te amo”, ela tinha aprendido, então. Tentei sorrir. E as flores, e os barcos, e os cais, foram distanciando, um do outro, um de outro, desatados. Minha vista cansada de esperança. Ela ao longe. Horizonte.
Tenho o coração aos saltos. Penso que não é preciso dizer mais nada.
ResponderExcluirTânia