quarta-feira, 9 de junho de 2010

Maçãs de Amor

Eles sorriram dentes perfeitos para a foto. A automática registrou muitos fotogramas digitais, um mais plástico que o outro. Na mesma noite, diversas dessas imagens seriam repassadas aos amigos e figuradas na rede de relacionamentos preferidas de qualquer um.

Seria um belo retrato se pelos espaços vazios daquela imagem não existissem silêncios que a foto não revelava. Eram seis, tendo como laço um amigo em comum. Abraçados par a par da maneira que os satisfazia e confortava.

À direita, o primeiro casal arriscava um beijo mal formulado com olhos de soslaio para a fotografia. Poderia ser a imagem da felicidade, se ele não estivesse ao lado dela por desespero. Após uma longa vida de amores escusos, encontrou naquela mulher doente quem o amasse e não lhe cobrasse muito. A família achava que tinha futuro. Mas nunca sairiam do chão.

O casal do centro era o mais belo. Semelhantes no físico. E, ao contrário dos parceiros ao lado, tinham saído do lugar. Viajaram para o interior do Brasil, fotografaram em diversas praias, degustando camarões e peixes. Imagens que ilustrariam uma futura casa de casados. Que sempre seria interrompida pelo fato dela não amá-lo suficientemente. Necessitando encontrar em outros homens o ardor que não descobria em sua contraparte.

O lado esquerdo simbolizava, para os outros, a cumplicidade única do eterno. O casal mais velho da dupla já adiposo de tanto tempo que estavam juntos. Sem saberem que, dentro do cerne de cada um, o cansaço era rei. Ele não a compreendia mais, fingindo saber que a conhecia. Não entendendo como, aos trinta, ainda agia como uma garota de quinze. E ela, tendo ele como o primeiro e o único amor, sentia-se presa. Amando-o sim, mas sempre, vez ou outra, deixando o pensamento a levar para um mundo em que ela seria livre e poderia experimentar outros frutos proibidos.

Aos poucos, um a um naquele retrato perdia seu reflexo de perfeição quando se conhecia os vazios que os determinavam. Se tornavam apenas imagens que comprovavam almas insatisfeitas, vitimadas pelos desvios da vida. Abstendo-se de boa parte de si. Sem coragem para assumir seu lado miserável. Amores que só eram chamados assim por não haver outra palavra mais rude para defini-los. Amores surdos.

3 comentários:

  1. Uma pena que só sorrisos nas praias, nas viagens, não sejam suficientes pra demonstrar esse tal sentimento chamado amor.

    mas eles tentam...

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  2. Difícil acreditar quando acabou, ou se é que um dia existiu de fato, né.

    adorei mesmo o texto. e consegui vizualizar tudo e sentir pena, de um por um.
    amei,
    novidade? ahahah

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  3. Amargo! Me angustiou o texto, mas se eu ficasse indiferente não seria melhor, não é?

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