sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sensação

Quase no final Roberto decidiu que não sairia dali. Não sairia de maneira alguma. Não teria mãe, nem pai, nem gerente, nem polícia, nem ninguém que o tirasse. Não. Não sairia.

Vontade não faltava, mas dessa vez teria também a firmeza necessária. Não sairia!

Da outra vez sua mãe o convencera, o tirara, prometera um brinquedo novo que nunca veio. Não acreditaria nela novamente. Não. Não sairia.

Era claro para ele que chegariam as ameaças, elas sempre chegavam. Era claro para ele que chegaria a hora das chantagens... o metier é sempre o mesmo. Sempre, mas não. Não sairia!

A sensação do vento batendo na sua pele valia cada chantagem e a vertigem em seu ventre valia cada ameaça. Não, de fato ele não sairia. Jamais.

Iria de novo e de novo e de novo, até cansar e como não cansaria nunca, não sairia.

A sensação de coragem, de dever cumprido, coisas que ele nunca teria no mundo de sempre, eram o seu combustível para àquela luta incessante contra o poder estabelecido. Era um mártir, um rebelde, um contestador. Mas diferentemente dos tolos que o precederam na grande linhagem dos rebeldes, dos contestadores e dos mártires ele só pensava em si. Nada de coletivo, de social de coisas bobas que não tivessem a ver com o prazer dos braços subindo e levando a adrenalina junto. Ele não sairia! Ponto!

E por fim, acabou. Acabou e todo o mis-en-scène aconteceu. E de fato, pro nosso entendimento da história, seria bom saber se Roberto, por fim, cedeu ou não. Mas não se inventam mártires, rebeldes e contestadores contando toda a história. Por isso paro por aqui.

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