A noite era um emaranhado de cores brilhantes. Canções de tom felizes que saiam de alto-falantes mono tônicos e doces que invejavam os insetos que os rodeavam.
Eu beliscava um pedaço de seu algodão doce, tingido com um tom de rosa bem falso e ela caminhava distraída, tão estúpida que, por diversas vezes, passava a mesma mão suja de doce no cabelo, para ajeitá-lo.
Paramos em frente a roda gigante, lugar onde sempre tive um leve tremor. “Você sabia que em inglês, um parque é chamado de Carnivale?”, ela me disse. “Não”, respondi, e continuei olhando para cima, como uma criança.
“Gosta da roda?”, me perguntou. “Acho fascinante”, respondi. Ela riu e a encarei com meus olhos claros, dando certo aval para que prosseguisse. “Como pode gostar do brinquedo mais bobo de um parque de diversões?”. E foi apontando os que achava mais divertido. O que virava ao contrário, o de queda vertiginosa e o que não parava de balançar.
Olhei a roda. As luzes imponentes, muitas delas falhas olhando de volta para mim. Um pingado de crianças fazendo fila. Inclinei minha cabeça para o brinquedo e para a moça, “deixe-me mudar sua opinião”.
Éramos os maiores da fila, além dos país que acompanhavam os pirralhos. Cada carrinho dava lugar para quatro pessoas, mas fechei a porta quando uma mãe com uma criança gordinha tentou entrar, “estamos lotados”, disse.
O fluxo começou a funcionar, mundo girando ao contrário no espaço tempo e subindo. As lufadas de ar que batiam na barba, uma sensação mais fria do que a terrena.
A roda quase chegava ao seu topo e o parque era todo meu. As luzes da entrada, os brinquedos de rodopio, os que giravam, tudo parecia meu pequeno mundo de miniatura por poucos segundos. Rodamos por duas vezes até, um por um, o operador fazer-nos descer.
Permaneci em meu acento, a moça me olhando com um olhar estranho. Chamei o rapaz, tirei uma nota da carteira, coloquei em seu bolso da frente dizendo: “me deixe lá por, pelo menos, dez minutos”. Ele acenou com a cabeça, fechou nosso carrinho e rapidamente nos fez girar.
A cidade ampliava-se, ganhava contorno e, lá de cima, tudo era mais silencioso. Sorri. “Vê?”, disse.
Estiquei meus pés em cima do outro acento vazio dizendo “é um mundo maravilhoso lá embaixo. Tudo o que precisamos é de perspectiva. Agora, sente e sinta-se como um pequeno deus.”
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