Um carrossel e um palhaço. Assim começa, quando o homem pintado de fera aperta o botão vermelho. O carrossel começa a girar, girar, e eu não sei ao certo onde estou. Não mais. Só uns borrões de cores e luzes, voltemeia o palhaço passando na vista, parado ao lado da mesa de controle. Girando rápido, borrões e cores.
Já vejo o homem a cada 20 segundos. O carrossel vai mesmo rápido, e acelera. Ele, palhaço, agora espera sentado no chão, ao lado botão vermelho, uma alavanca e manivela. Que coisa, podia jurar que era uma vela o que ele tinha na mão...
Mas não, não era; o homem pintado de urso fumava um cigarro, um charuto, um cachimbo, não sei. Sentado ao lado do carrossel velho. E eu girava mais rápido, vento nos cabelos, rosto assustado e mãos crispadas no arreio do bode.
Porque sei lá, foi num bode que eu montei, e ele era o mais rápido dos seis. Um bode, um dragão, uma onda. Eram os três primeiros, pintados de dourado e verde. O bode tinha bigodes pretos, mas as cores eram dourado e verde, principalmente. Os outros eram tão sujos e desbotados que eu não sei se eram um tapete, uma vaca e uma arara ou uma bandeja, um cachorro e a dona do albergue em que fiquei em Barcelona...
O palhaço aparecia à minha vista a cada 3 segundos, e achei que estivesse louco. Eu, não o palhaço... eu, porque depois da terceira vez que vi o homem minhas mãos eram pequenas, como de criança escondida sobre a mesa de brigadeiro em festa de família. Notei que ia de costas, montado ao contrário no burro. Só notei depois de muitas voltas, mesmo, sou desligado feito meu Tio Crispim.
Meu tio Crispim, que vinha com um sacão de pipoca me tomar pela mão e levar para longe daquele brinquedo. “Chega de girar, menino, que tu já tá é tonto. Chega de girar e vamos ver o resto”.
Entramos na casa dos espelhos...
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