terça-feira, 11 de agosto de 2009

Rosas e Vinho Tinto

O ritmo estava devagar. A canção em um momento errado trazia sono do que prazer. Mais um gole daquele vinho, comprado especialmente para a ocasião, poderia fazer com que as pálpebras se fechassem. Quebraria toda a preparação e transformaria essa noite em potencial em um desastre completo.

Estavam juntos, sentados próximos no sofá, em frete a televisão. O filme parecia tedioso para ambos, mas nenhum dos dois, até os créditos finais, ousou dizer palavra alguma. Muito menos pausá-lo, tentando estabelecer algum diálogo que já nasce morto. Fora de questão.

Ele achava que seduziria-a no primeiro momento. Ela imaginava que ali, longe das mesas de reuniões, seria diferente. Mas o mesmo silêncio e respeito entre secretária e chefe era presente. Do trabalho ao seu apartamento do quinto andar.

Antes do tédio em frente a tevê, comeram uma massa caseira, preparada por ele. Nessa hora ela parecia diferente, mais solta. Conversou sobre suas preferências culinárias, os quitutes da mãe e pode reparar no olhar curioso do outro lado da mesa. Como um cientista que observa uma descoberta em seu microscópio.

A noite fora preparada com cuidado de ambas as partes. Tudo parecia tão preso e ensaiado que nada aconteceu. As roupas compradas e escolhidas para a ocasião não funcionaram. Os perfumes mais se trombaram do que trouxeram a sensação de desejo que esperavam.

Quando os letreiros da trama boba que assistiam subiu a tela, ficaram em silêncio e, quase sem perceber, um admirou o relógio do outro. Levantaram-se, como se ambos estivessem em um lugar desconhecido e precisassem partir.

Ele fez perguntas sobre o sabor do jantar, ela timidamente respondeu com elogios enquanto caminhava para a mesa do canto onde deixara bolsa e casado.

Foi isso. Despediram-se de um encontro morno, quase frio.

Enquanto trancava a porta do apartamento, via o que sobrou daquele encontro. Comida fria, vinho tinto, o cheiro de perfume emaranhado ao seu. Se renovou-se, não sabendo o porque. Deu dois passos rumo a mesa, dois goles do vinho e abriu a porta. Gritou o nome dela lá mesmo, ecoando pelos corredores.


Ela, em seu passo lento, estava perto e segui seu chamado prontamente. Quando se encontraram no meio do caminho, as luzes do corredor se apagaram. Um pequeno empurrão para um beijo ou para uma fuga as escuras. Sentiram-se a vontade na escuridão e deram vazão ao desejo esperado.

Quando um vizinho reacendeu as luzes do pátio, um observava o outro de perto. Ele disse boa noite e ela até amanhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário