terça-feira, 25 de agosto de 2009

No Meio de Tudo, Você.

Carter não conseguia imaginar como alguém tão bela parecia tão diferente nas fotografias que tirava. Havia ângulos errados e obtusos, tirados as pressas, que mais revelavam as poucas saliências defeituosas daquele rosto do que sua beleza iluminada. “Tenho olhos com problemas ou fotos revelam demais”, pensou.

Virou-se na cama e, ao seu lado, deixou que a imaginação pregasse-lhe um truque. Seus olhos a refizeram ali. Recordando mentalmente a sua imagem, notou os vincos que os retratos revelavam. Após refletir, retirando-a de sua cama e da memória, feito fumaça, concluiu que não. Confirmando sua hipótese mais provável de que retratos eram um remendo mal feito agarrado pelo tempo.

Mas não fora esse o foco de seu incomodo real. Mas sim despertar e logo encontra-la em seus pensamentos, sem conseguir afugenta-la. Lembrou-se de um sonho, apenas pequenas partículas em lembrança, em que estava com um dos braços abertos esperando que ela chegasse de onde estava para que seu braço entrelaçasse sua cintura. Carter lembrava-se de que caminhavam junto alguns passos e ele dizia algo a ela, remetendo-se a um assunto recém comentado. Imaginou que a proximidade significava que talvez estivesse chovendo.

A razão desse devaneio e o que respondeu a ela, não lembrava. Tinha a sensação de ter sido algo importante e jocoso. Algo que a faria rir por alguns segundos e refletir em seguida.

Levantou-se da cama, imaginando que uma caneca de café clarearia suas idéias. A fumaça fumegante do líquido amargo sempre abria-lhe as idéias, antes mesmo de toma-lo. Tomar café sozinho em um ambiente silencioso sempre lembrava filmes em que personagens gastavam dispendiosas horas tomando suas bebidas e refletindo sobre a vida.

“Não vejo relevância em ficar tanto tempo destinado a permanecer em um só local, em uma só reflexão. É necessário caminhar com elas, para brotar conclusões”, pensou, enchendo outra caneca de café.

Mesmo que a reprimisse pelo resto do dia, matando-a um milhão de vezes em seus pensamentos, sabia que essa memória tácita voltaria a surgir. Fosse em fagulhas que ligavam-se ao cheiro dela em um corredor de supermercado onde Carter, de repente, caminharia mais lento para aspirar melhor suas lembranças. Ou em alguma palavra que ouviria em conversas alheias, possuindo a mesma cadência da maneira que ela tinha de pronunciar as palavras.

Cerrou os olhos com a intenção de afunilar, em vão, as memórias. Mas naquele dia não lutou contra si mesmo. Quis experimentar o que o próprio consciente poderia lhe trazer. Entregou-se. Fosse o que fosse, suas memórias não lhe deixariam em paz. Em goles suaves de café, entre a fumaça quente que saia da caneca, deixou que seus desejos o invadisse e, aos poucos, ela formou-se ao seu lado e ambos começaram a caminhar novamente.

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