Pedi uma bebida, ela deixou um copo d´agua em cima da bancada. “Pela sua cara, você só pode pagar uma água”. Eu sorri pela ironia de suas palavras e repliquei, “mas você tem o poder de me dar um drinque de verdade”. Ela sorriu em resposta e me deu algo quente para beber, tomei de um gole.
“Novo na cidade?” perguntou. “Novo em qualquer lugar.”, respondi. “Quanto drama. Faz teatro?” e ergueu a mão direita imitando a cena do príncipe com a caveira. “Desde que nasci”, falei.
“Tem cara de quem faz tragédias, você não parece do tipo que ri”, e esboçou um sorriso falso. “A vida já é uma tragédia, querida. Não precisamos mais dela. Faço as pessoas rir, não rio de mim mesmo, tem cigarro?” e mostrei meu isqueiro. “Não fumo”, ela disse. “Nem eu, achei que uma nova cidade e um novo vício fariam-me bem”.
Ergueu-me o dedo contra a face, “Então é novo na cidade!”. De sorriso transpassado respondi, “novo, que seja, mas macaco velho. Não consegue perceber? Não consegue perceber a cara de um comediante?”.
“Eles tem caras agora? Como máscaras de tragédia e comédia? Para mim são todos iguais.”
“Bobagem. Consigo ver o riso aonde os outros não conseguem, sou especial para alguma coisa”.
Ela encheu meu copo, fez uma regência com uma das mãos apontando ao bar e disse: “Valendo uma rodada, faça-me rir”. Gostei de seu desafio, “só se me acompanhar”. E encheu outro copo.
Escolhi o homem do canto. Quarentão, óculos quadrado, cara de perdedor. Soltei quatro piadas seguidas sobre ele. Ela riu, de leve. Apontei para três sujeitos e fiz mais algumas piadas. Uma delas a fez rir muito, perdendo o fôlego.
“Diabos”, arfando, “Você até que é bom, como se faz?”. Refleti por um momento e respondi com ironia, “basta ser desiludido com a vida. Pense em um presente perfeito de natal, quebre-o por completo. E veja aquilo que sobrou. Tirei daí a miséria do riso”.
“Insisto que você é bom para tragédia. Quanto drama. Já pensou em fazer monólogos clássicos?” perguntou-me, interessada em mim.
“Não. São belos, mas não tenho expressão facial para tanto. Meu rosto se comporta de duas maneiras. Triste e miseravelmente triste”. Ela riu. Mas eu falava sério aquela hora. Fechei minha cara.
“O que foi?” perguntou. “Eu falava sério”, disse. “Desculpe. Acho que não tenho tanto para entender comediantes.” Tentando consertar seu desarranjo.
“Sem problemas. Eles estão mortos mesmos”. E ela tornou a rir de minha desgraça. Minha sina de trazer o riso até em funerais. Pedi outra bebida. Ela encheu o copo sem perguntar se eu tinha dinheiro.
“Que horas sai?”, perguntei. “Logo, por quê?”, respondeu.
“Ainda tenho algumas piadas na manga. Que tal ouvi-las após sair dessa pocilga?”, disse tomando a bebida.
Ela sorriu, sem que eu imaginasse o porque do riso. "Certo, comediante. Saio em meia hora.”
E eu me preparava para, mais uma vez, encontrar um motivo qualquer para levar uma qualquer para a cama. Foi então que ri da estupidez da minha vida. Eu era um comediante, afinal.
“Novo na cidade?” perguntou. “Novo em qualquer lugar.”, respondi. “Quanto drama. Faz teatro?” e ergueu a mão direita imitando a cena do príncipe com a caveira. “Desde que nasci”, falei.
“Tem cara de quem faz tragédias, você não parece do tipo que ri”, e esboçou um sorriso falso. “A vida já é uma tragédia, querida. Não precisamos mais dela. Faço as pessoas rir, não rio de mim mesmo, tem cigarro?” e mostrei meu isqueiro. “Não fumo”, ela disse. “Nem eu, achei que uma nova cidade e um novo vício fariam-me bem”.
Ergueu-me o dedo contra a face, “Então é novo na cidade!”. De sorriso transpassado respondi, “novo, que seja, mas macaco velho. Não consegue perceber? Não consegue perceber a cara de um comediante?”.
“Eles tem caras agora? Como máscaras de tragédia e comédia? Para mim são todos iguais.”
“Bobagem. Consigo ver o riso aonde os outros não conseguem, sou especial para alguma coisa”.
Ela encheu meu copo, fez uma regência com uma das mãos apontando ao bar e disse: “Valendo uma rodada, faça-me rir”. Gostei de seu desafio, “só se me acompanhar”. E encheu outro copo.
Escolhi o homem do canto. Quarentão, óculos quadrado, cara de perdedor. Soltei quatro piadas seguidas sobre ele. Ela riu, de leve. Apontei para três sujeitos e fiz mais algumas piadas. Uma delas a fez rir muito, perdendo o fôlego.
“Diabos”, arfando, “Você até que é bom, como se faz?”. Refleti por um momento e respondi com ironia, “basta ser desiludido com a vida. Pense em um presente perfeito de natal, quebre-o por completo. E veja aquilo que sobrou. Tirei daí a miséria do riso”.
“Insisto que você é bom para tragédia. Quanto drama. Já pensou em fazer monólogos clássicos?” perguntou-me, interessada em mim.
“Não. São belos, mas não tenho expressão facial para tanto. Meu rosto se comporta de duas maneiras. Triste e miseravelmente triste”. Ela riu. Mas eu falava sério aquela hora. Fechei minha cara.
“O que foi?” perguntou. “Eu falava sério”, disse. “Desculpe. Acho que não tenho tanto para entender comediantes.” Tentando consertar seu desarranjo.
“Sem problemas. Eles estão mortos mesmos”. E ela tornou a rir de minha desgraça. Minha sina de trazer o riso até em funerais. Pedi outra bebida. Ela encheu o copo sem perguntar se eu tinha dinheiro.
“Que horas sai?”, perguntei. “Logo, por quê?”, respondeu.
“Ainda tenho algumas piadas na manga. Que tal ouvi-las após sair dessa pocilga?”, disse tomando a bebida.
Ela sorriu, sem que eu imaginasse o porque do riso. "Certo, comediante. Saio em meia hora.”
E eu me preparava para, mais uma vez, encontrar um motivo qualquer para levar uma qualquer para a cama. Foi então que ri da estupidez da minha vida. Eu era um comediante, afinal.
Caramba, eu me surpreendo a cada leitura que faço dos seus textos. Acho que gosto de 98% deles. rs... Vc é foda Thi! Parabéns. PS: adoro sua ironia
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