O cara subiu no palco. Tava não vestido de mágico, tava não. Trajava um terno cortado de fraque, com aquele rabinho bacana de pinguim, pequenos óculos redondos e uma cara apatetada. Não parecia com um mágico, em nada.
Era fim de noite, de meios euros gastos e de meia embriaguez latente. A platéia tinha sono, marcas de batom no colarinho e os dedos prontos a discar pro serviço de táxi. Daí foi que o rapazinho subiu ao palco, pigarreou no microfone bem preso por fita isolante e fio de cobre e, sem cobrar mais nada além do couvert de praxe, estalou os dedos.
Estalou juntando as duas mãos entrelaçadas e virando ao contrário, clec, vocês sabem. A meia embriaguez de todo mundo foi-se embora. Ou ficou embriaguez inteira, ninguém sabe. Fato é que o estalo de uns dedos encharcados de suor foi bem mais alto que o mínimo esperado, e a platéia teve um sobressalto. As marcas de batom continuavam nos colarinhos, mas as bocas semi-abertas olhavam pro que o rapazinho ali no palco ia, pouco a pouco, apresentando.
Enfiou a mão direita na manga esquerda do fraque e puxou um canivete. Com um movimento rápido fez o canivete quintuplicar de tamanho, virando uma espada que ele, rapazinho, jogou pro alto, sem olhar. Depois, com a mão esquerda puxou do bolso in terno uma lagarta, que jogou pro alto rumo à faca. À espada. A lagarta virou borboleta no instante em que tocou a espada, e a espada se desfez em chuva ácida.
As bocas semi-abertas eram olhares espantados, agora, a gritar assombros e exclamações. O rapazinho no palco parecia injuriado, como quem não consegue o que tá tentando conseguir. Mas ninguém sabia, ali da platéia, ninguém queria saber. A chuva ácida caía, e o rapaz do palco cutucava pela sola do sapato com um ar compenetrado. Procurando algo.
Tirou um barbante que enrolou rápido no dedo médio da mão esquerda, depois jogando pro alto, sempre pro alto, com um peteleco. No ar, barbante vira corda, corda vira cobra, cobra vira um grande tapete de pele a receber toda a chuva nas costas. A chuva ácida. Depois, em vez de um tapete esburacado, plumas. Multicoloridas, mas com uma predominância de azul. As plumas caíam, e o rapaz começava a soltar o corpo sobre o chão.
A platéia, os funcionários, o dono do bar e até a polícia que vinha toda noite receber sua propina estavam conquistados. Não percebiam o estado de aborrecimento do rapaz. Não sabiam o que ele queria, mas ele sabia (ele sabia, inclusive, o que eles queriam, mas pouco se importava, e continuava a procurar o que procurava).
As plumas caíram formando um fofo travesseiro, quase ao mesmo tempo, mas um pouco antes, da queda do rapaz, de bunda, sobre o chão. O microfone regulou sua altura, ficando bem pertinho do menino, e de dentro do estojo de courino que trouxera dos bastidores - antevendo que seria útil - aquele mágico puxou um papelzinho.
- Ah!, minha poesia. Ainda bem que trouxe outra cópia. Senhoras e senhores, boa noite. Hoje vim aqui tão-somente para ler essa epopéia...
Era fim de noite, de meios euros gastos e de meia embriaguez latente. A platéia tinha sono, marcas de batom no colarinho e os dedos prontos a discar pro serviço de táxi. Daí foi que o rapazinho subiu ao palco, pigarreou no microfone bem preso por fita isolante e fio de cobre e, sem cobrar mais nada além do couvert de praxe, estalou os dedos.
Estalou juntando as duas mãos entrelaçadas e virando ao contrário, clec, vocês sabem. A meia embriaguez de todo mundo foi-se embora. Ou ficou embriaguez inteira, ninguém sabe. Fato é que o estalo de uns dedos encharcados de suor foi bem mais alto que o mínimo esperado, e a platéia teve um sobressalto. As marcas de batom continuavam nos colarinhos, mas as bocas semi-abertas olhavam pro que o rapazinho ali no palco ia, pouco a pouco, apresentando.
Enfiou a mão direita na manga esquerda do fraque e puxou um canivete. Com um movimento rápido fez o canivete quintuplicar de tamanho, virando uma espada que ele, rapazinho, jogou pro alto, sem olhar. Depois, com a mão esquerda puxou do bolso in terno uma lagarta, que jogou pro alto rumo à faca. À espada. A lagarta virou borboleta no instante em que tocou a espada, e a espada se desfez em chuva ácida.
As bocas semi-abertas eram olhares espantados, agora, a gritar assombros e exclamações. O rapazinho no palco parecia injuriado, como quem não consegue o que tá tentando conseguir. Mas ninguém sabia, ali da platéia, ninguém queria saber. A chuva ácida caía, e o rapaz do palco cutucava pela sola do sapato com um ar compenetrado. Procurando algo.
Tirou um barbante que enrolou rápido no dedo médio da mão esquerda, depois jogando pro alto, sempre pro alto, com um peteleco. No ar, barbante vira corda, corda vira cobra, cobra vira um grande tapete de pele a receber toda a chuva nas costas. A chuva ácida. Depois, em vez de um tapete esburacado, plumas. Multicoloridas, mas com uma predominância de azul. As plumas caíam, e o rapaz começava a soltar o corpo sobre o chão.
A platéia, os funcionários, o dono do bar e até a polícia que vinha toda noite receber sua propina estavam conquistados. Não percebiam o estado de aborrecimento do rapaz. Não sabiam o que ele queria, mas ele sabia (ele sabia, inclusive, o que eles queriam, mas pouco se importava, e continuava a procurar o que procurava).
As plumas caíram formando um fofo travesseiro, quase ao mesmo tempo, mas um pouco antes, da queda do rapaz, de bunda, sobre o chão. O microfone regulou sua altura, ficando bem pertinho do menino, e de dentro do estojo de courino que trouxera dos bastidores - antevendo que seria útil - aquele mágico puxou um papelzinho.
- Ah!, minha poesia. Ainda bem que trouxe outra cópia. Senhoras e senhores, boa noite. Hoje vim aqui tão-somente para ler essa epopéia...
hahahahahaha poutz
ResponderExcluirMoço-Santos-Recife-3X3-milkshake-graviola escreve bem demais.