Foi assim: dente fodido, dente quebrado. Grão de arroz cru ou muito duro, não importa, fez as vezes de aríete pra boca. Comida vegetariana com esmalte dentífico, toma limonada e continua, já que quebrou mesmo, essa merda. Daí depois, um bem depois, corre pra atendimento de emergência da Odonto faculdade. Faculdade pública, estudantes públicos, serviço público de qualquercoisa, sabe como é...
Era fim de semestre. Finzinho, mesmo, tipo última semana. Semana de provas. Talvez até semana de exames, já, praqueles superlegais que tomaram pau na prova antes e iam a fazer prova agora. Mas como é de graça, não se joga fora. Porra de dente quebrado, "Esse é só um provisório, vá na Dentística, vá?, e tenta se encaixar". Fim de semestre, eu disse, mas bem que me encaixei. E não só fim de semestre, mas fim de expediente, horário letivo, a porra que seja. Prova, dupla latina - um paraguaio, uma chilena - "Vamos tirar radiografia. Duas", "Duas porra nenhuma, Rita, duas nenhuma, que estamos atrasados. Mira la face del demonio, aquela professora é um saco". E tirou só uma.
"O que é? Vocês têm pouco tempo, vão desligar o compressor, rápido, rápido. É esse que dói?, deixa ver. Ah!, é canal. Canal não faz aqui, não. Agora, esse de cima..."
Esse de cima? Nunca teve nada nesse de cima. Teve nada, ora, nada nada. Nem doía. "Nosotros vamos empastar tu diente. Rita, saca el equipo". E que porra foi, então, que empastaram mesmo. Buraco de dois dedos num dente que nem esse espaço todo tem... E o quebrado? Provisório? Ainda, ora, porque era canal, certo?, canal. "Marca pra daqui a dois meses, semestre que vem". Marquei.
"Então falaram que era canal? Ah, certo. Aqui mesmo, tu diz? Uma professora? Certo". É, cara, mas sei lá, me senti meio cobaia - "esse tá complicado demais e não tem tempo. Façam aquele outro ali de cima, que não tem nada e é o que falta pra vocês fecharem a nota" -, saca? Parecia que eu era um daqueles camundongos brancos de laboratório que são mortos judiosamente puxando cabeça de um lado, rabo de outro. Argh! "Bom, a gente vai ver. Tirar outra radiografia, então, Mário?", "É, tira uma periopetrial, e a gente vê". Certo, vamos lá, então, digo eu comigo mesmo.
E fomos.
Sala velha de radiografia, cadeira nazista de chumbo, placa de chumbo na porta, canhão de raio-x frouxo que precisava de uma mão pra ficar na posição certa... continuava me sentindo um ratinho de laboratório. "Veste isso, mestre". Colete de chumbo. Do peito aos joelhos. "E isso". Coleira de chumbo. Co-lei-ra.
Eles saem. Seguro o raio-x. Sinto ainda um rato de laboratório, ou mais. Uma cobaia. O raio-x faz barulho, esquenta, queima meus dedos, mas não solto. Queima meu antebraço, esquenta mais, acho estranho e olho. Porra, cadê todo mundo? Por que meu braço tá queimando até o ombro, e que gritaria é essa? Deus, por que tô ficando verde? Por que caralho eu ah grr uargh!, ESMAGA!
Era fim de semestre. Finzinho, mesmo, tipo última semana. Semana de provas. Talvez até semana de exames, já, praqueles superlegais que tomaram pau na prova antes e iam a fazer prova agora. Mas como é de graça, não se joga fora. Porra de dente quebrado, "Esse é só um provisório, vá na Dentística, vá?, e tenta se encaixar". Fim de semestre, eu disse, mas bem que me encaixei. E não só fim de semestre, mas fim de expediente, horário letivo, a porra que seja. Prova, dupla latina - um paraguaio, uma chilena - "Vamos tirar radiografia. Duas", "Duas porra nenhuma, Rita, duas nenhuma, que estamos atrasados. Mira la face del demonio, aquela professora é um saco". E tirou só uma.
"O que é? Vocês têm pouco tempo, vão desligar o compressor, rápido, rápido. É esse que dói?, deixa ver. Ah!, é canal. Canal não faz aqui, não. Agora, esse de cima..."
Esse de cima? Nunca teve nada nesse de cima. Teve nada, ora, nada nada. Nem doía. "Nosotros vamos empastar tu diente. Rita, saca el equipo". E que porra foi, então, que empastaram mesmo. Buraco de dois dedos num dente que nem esse espaço todo tem... E o quebrado? Provisório? Ainda, ora, porque era canal, certo?, canal. "Marca pra daqui a dois meses, semestre que vem". Marquei.
"Então falaram que era canal? Ah, certo. Aqui mesmo, tu diz? Uma professora? Certo". É, cara, mas sei lá, me senti meio cobaia - "esse tá complicado demais e não tem tempo. Façam aquele outro ali de cima, que não tem nada e é o que falta pra vocês fecharem a nota" -, saca? Parecia que eu era um daqueles camundongos brancos de laboratório que são mortos judiosamente puxando cabeça de um lado, rabo de outro. Argh! "Bom, a gente vai ver. Tirar outra radiografia, então, Mário?", "É, tira uma periopetrial, e a gente vê". Certo, vamos lá, então, digo eu comigo mesmo.
E fomos.
Sala velha de radiografia, cadeira nazista de chumbo, placa de chumbo na porta, canhão de raio-x frouxo que precisava de uma mão pra ficar na posição certa... continuava me sentindo um ratinho de laboratório. "Veste isso, mestre". Colete de chumbo. Do peito aos joelhos. "E isso". Coleira de chumbo. Co-lei-ra.
Eles saem. Seguro o raio-x. Sinto ainda um rato de laboratório, ou mais. Uma cobaia. O raio-x faz barulho, esquenta, queima meus dedos, mas não solto. Queima meu antebraço, esquenta mais, acho estranho e olho. Porra, cadê todo mundo? Por que meu braço tá queimando até o ombro, e que gritaria é essa? Deus, por que tô ficando verde? Por que caralho eu ah grr uargh!, ESMAGA!
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