As mãos mexiam-se em sintonia com o ritmo em sua cabeça. Um pé no bumbo, uma batida cadenciada na caixa. Cantava mentalmente Dylan na versão de Caetano. Vá, se mande, junte tudo que você puder levar. Sentia o coração pulsando. Seu filho feio e louco ficou só. Chorando feito fogo à luz do sol.
Na rua São Bento, ele retirava dinheiro para pagar as contas. Uma multidão protestava com cartazes erguidos, desejando melhorias no transporte público da cidade. Os alquimistas já estão no corredor.
Viu um garoto com um cartaz na mão e um moletom da GAP. Lembrou-se de uma imagem cômica de outro protesto, em São Paulo, de um rapaz de universidade utilizando um moletom parecido e que acabou virando um alvo reverso da iniciativa como um playboy presente na manifestação apenas pelo clima.
Riu. Mas não daquelas pessoas e nem daquele rapaz. Somente da lembrança. Subiu a rua ainda ouvindo os gritos da multidão. E não há mais nada, negro amor.
Sentia-se deslocado por conhecer somente literatura. Em época de guerra, não há espaço para um literato a não ser preencher diários de guerra. Deveria voltar, anotar o que viu, escrever. Mas estava cansado. Noites mal dormidas vivendo sua guerra interna.
A estrada é pra você e o jogo é a indecência. O mundo em suspensão implodia-se, explodia-se, de dentro para fora, de fora para dentro e você: insignificante, pequeno, compulsivo por alimentos, gordo. Expectativa de vida: o dia seguinte.
Junte tudo que você conseguiu por coincidência. E o pintor de rua que anda só, desenha maluquice em seu lençol.
Deveria escrever uma ficção hoje. Mas Leandro, seu amigo parceiro literato, ainda não havia escolhido o tema da semana. Infiltrado em protestos, esqueceu a literatura. E ele pensava onde se encaixava quando parecia mais que um detalhe, um artefato que ninguém necessita.
O Brasil poderia parar, o tempo não. Pensou em Cazuza, não esqueceu de Caetano. Os alquimistas já estão no corredor.
No facebook, chamou Leandro: e o tema? Ou terei que escrever um não tema? Rapaz, respondeu, tema ou não tema, vá.
Então, foi.
Nas principais capitais do país, a marcha seguia ritmada, como suas mãos e pés. Bumbo e caixa, tá tum, tá tum, coração. Um grito em coro. E não há mais nada, negro amor.
Tema ou não tema, vá.
Não temeu. E foi.
Deveria escrever uma ficção hoje. Mas Leandro, seu amigo parceiro literato, ainda não havia escolhido o tema da semana. Infiltrado em protestos, esqueceu a literatura. E ele pensava onde se encaixava quando parecia mais que um detalhe, um artefato que ninguém necessita.
O Brasil poderia parar, o tempo não. Pensou em Cazuza, não esqueceu de Caetano. Os alquimistas já estão no corredor.
No facebook, chamou Leandro: e o tema? Ou terei que escrever um não tema? Rapaz, respondeu, tema ou não tema, vá.
Então, foi.
Nas principais capitais do país, a marcha seguia ritmada, como suas mãos e pés. Bumbo e caixa, tá tum, tá tum, coração. Um grito em coro. E não há mais nada, negro amor.
Tema ou não tema, vá.
Não temeu. E foi.
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