11 de Novembro de 1978
Comecei a escrever meu romance. É uma história épica de amor e guerra. Terá sentimento e mudará o mundo.
24 de Janeiro de 1981
Consegui uma editora que bancará os custos de meu brilhante romance. Tenho já 622 páginas escritas e fôlego para muito mais. Eles apostaram em meu talento e não se arrependerão.
30 de Junho de 1985
Estou me mudando de casa, despejado. Levo comigo apenas as 1457 páginas escritas de "Longe do Amor Fatal". Obra sublime, revolucionária. Mas infelizmente sofro com a falta de apoio de minha editora, que se recusa a pagar mais honorários. Tolos.
21 de Fevereiro de 1993
Penso em como será o choque na face dos críticos quando lerem meu romance. É tão genial que as vezes me assombro. Guardo-o em uma gaveta, fechado. Tem 2735 páginas, todas belas. Em todas elas há novidades que gelarão as almas. Não o publiquei ainda por divergências contratuais. Mas quando o fizer será o acontecimento da década.
13 de Setembro de 1999
Reescrevi metade do meu romance, aprimorei ainda mais a sua fina arte... agora ele tem 4852 páginas e a editora cogita lançá-lo em 2 volumes. Não quero, acho que estragará a unidade da obra. Não cederei.
25 de Maio de 2007
Hoje foi um dia histórico. Finalmente resolvi o único problema que havia em meu romance. Reescrevi o final, agora trágico e catártico, como cabe às grandes obras da humanidade. Mas ele as transcende. Nada de Hamlet, que morra a divina comédia, Cervantes era um menino brincalhão ante minha maestria. Agora o livro possui 6389 páginas. Todas elas melhores que tudo que já foi publicado. Aguardo apenas a escolha da ilustração da capa.
30 de julho de 2010
Cada dia que se passa eu me encanto mais com a obra-prima que escrevi. 10035 páginas de pura virtuose e elegância. E cada dia que se passa a humanidade perde não conhecendo as melhores imagens, as mais finas metáforas, o ápice do gênio humano. Maldita editora!
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