Aroldo estava sentado havia tempo. Era o quarto chopp que recebia das mãos suadas de Joana. Calor demais, naquele dia.
Rabiscava sobre papéis qualquer coisa que pareciam poemas, qualquer coisa falando tristeza. Joshua só observava. Era um papel atrás do outro, a maior parte no lixo, dois dobrados e enfiados no bolso e...
- Pronto! Eis o poema final pronto e acabado - gritou Aroldo.
- Que poema, mané? - perguntou Joshua, detrás do balcão.
Era um poema que começava triste, como a tristeza que Aroldo sentia naquele momento, desde dois dias atrás. O motivo da tristeza era algo etéreo e não determinado, era bem blues - ele pensava -, dizia respeito a uma mulher que o havia deixado.
Não, não o havia deixado, exatamente. Ele simplesmente falara a ela o que sentira naquela noite, primeira noite, mas não falara esperando futuros nem nada demais. Só achou que devia dizer, foi lá e disse. Agora estava triste. Porque a resposta dela foi um menear de cabeça e qualquer grunhido dizendo "aham".
A resposta da moça o decepcionou. Decepcionado consigo próprio, "idiota, idiota, não devia ter dito nada, agora ela está lá e não vai querer mais nada. Você espantou a mulher!".
Lendo o poema, Joshua falou:
- Não era um poema triste?
- E era. Mas o som dessa jukebox me mexe os miolos. Enfim, cadê o mural pra eu pregar esse lixo?
- A traça comeu. Não tenho mural faz um mês.
- Ô diabos! Que eu faço agora? Não tem uma mísera mesa em que eu possa jogar o poema?
Joshua tinha. A mesa de poesias na entrada do bar do Clube. Uma mísera mesa, de fato, com meia dúzia de poesia escritas em guardanapo. E lá ficou a tristeza de Aroldo.
Mal sabia ele que o "aham" fôra apenas vergonha, e que por dentro ela estava mais samba que ele era blues, no momento.
gostei do que li.
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