Era o segundo dia que tomava lanche em seu escritório. Dois dias sem almoço nem janta em casa. Chegava muito tarde da noite, entre 22h ou 22h30, e degustar alguma janta estaria fora de questão. No máximo um aperitivo, metade de um pão, que nunca seria considerado uma janta de verdade.
Olhou o relógio e encontrou os ponteiros em 1 hora e 11 minutos. Teria uma reunião em menos de meia hora. Voltou a comer os últimos pedaços de sanduiche e deu o gole final em sua Coca Cola de latinha, que por sinal, ele odiava. "A lata a deixa com um gosto ruim!".
Terminado seu almoço, se reclinou na cadeira para descançar alguns minutos. Queria que o tempo parasse e pudesse dormir algumas horas. Na noite anterior tivera insônia e já tinha acordado atrasado por isso. Após cinco minutos, abriu os olhos, aproximou-se da mesa, com a caneta na mão anotou na folha em sua frente: "Tempo, tempo, mano velho". Foi para a reunião.
Saiu com o carro em cima da hora, esquecera seus óculos de sol, foi presenteado com uma dor de cabeça que prosseguiria até o final da noite. As 18 horas, sentiu fome, foi na lanchonete ao lado do trabalho, comeu uma esfiha de frango, saborosa, mas que o aborreceu por ser sua janta. Tomou de novo uma latinha de Coca, reclamou novamente: "Porque não vendem as garrafinhas aqui?"
Voltou ao trabalho meia hora depois. Sentou em seu computador, conferiu dados, massageou a cabeça esperando uma melhora, se distraiu por alguns minutos e prosseguiu.
As 21h30 terminou seu trabalho, estava quase sozinho por lá. Deu adeus aos colegas, um "até amanhã" para o segurança e rumou para sua casa.
Deitado em sua cama duas horas depois, lembrou-se de suas resoluções de ano novo. Uma delas era não ser mais escravo do tempo. Agradeceu que o ano finalmente estava no final, talvez seria por isso que agora teria de correr contra o tempo.
Acordou no horario no dia seguinte. Antes de sair de casa avisou a esposa, dessa vez, depois de dois dias, almoçaria em casa, impreterivelmente.
Saiu de sua casa sonhando com o sabor das batatas e do bife que estaria deliciosamente pronto para o almoço.
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Comentário do autor: Este texto é antigo, de anos atrás, mas veio a tona em minha mente esses dias quando notei quantos amigos tenho a margem do tempo. Correndo sempre como se tivessem em uma maratona e não soubessem quando ela vai terminar. Diante dessa reflexão sobre o tempo e sua dilatação, pensei em republicar esse texto.
Normalmente minha composição textual se dá por momentos que vejo e, em reflexão, escrevo a respeito. Mas, por fim, acabei refletindo novamente nesse texto, por isso a sua apresentação tardia. Não interpretem isso como uma ausência de algo novo e sim de uma releitura mental de um texto.
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