O pai segura o filho pelos braços. A mãe dá bronca, leu na revista que faz mal ao bebê. Os risos da criança o fazem continuar por alguns segundos, ela vai e volta. O olhar severo da mãe o para. Foi-se o tempo.
As rugas irrompem no rosto. Quando o filho abre a porta da sala, o pai finge que não está chorando. Tem de ser forte, sempre.
O filho ainda se lembra do ir e vir alegre no balanço do parquinho. Não sabe a última vez em que esteve nessa felicidade momentânea e, embora tenha tido o impulso de procurar um balanço para brincar, não sabe se um adulto pode usá-lo sem quebrar. A sensação do vento arrancando o medo, pendularmente indo e voltando, é como passado e presente.
Passado: o pai em palavras firmes ao seu lado, embaixo da copa da árvore, amparando-o e dizendo sou seu melhor amigo. Presente: o filho negligenciando as lágrimas do rosto enrugado, ainda receoso para aproximar, abraçá-lo, dizendo estou aqui.
O impulso inicial do balanço que sustenta e velocidade. A volta que provoca os vincos. Estão no centro da sala, no ápice de duas vidas separadas por trinta anos. O pai e ele ainda descrentes de que não são invencíveis.
Pai e filho pelo rosto anguloso, cabelo liso, em um dorso largo apesar da estatura mediana. Um ao lado do outro não sabem o que se dizer. O filho espera que, ao menos, o pai se sinta confortável no silêncio que dividem.
Quer perguntar ao pai a história de sua vida. Saber se está no caminho correto, fazendo certo ou errado. Mas os dois estão igualmente perdidos.
Pai e filho em iguais pelas lágrimas, tateando a escuridão.
Juntos serão luz.
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